Pois é, a Guiana tem petróleo. Ela tem petróleo não só no mar, mas também no interior. Nos dias de hoje, por exemplo, a empresa de exploração de petróleo Groundstar aposta nesta potencialidade da Guiana e fechou um pacote de contratos, dentro dos quais estabeleceu 3 pontos para as primeiras perfurações: nas regiões dos rios Karanambo, Rewa e Pirara. Consultem:http://www.searchanddiscovery.net/documents/2004/webster02/images/poster03.pdf ou http://www.frasermackenzie.com/presentations/Groundstar%20at%20FM%20Conference.pdf). Toda esta predisposição petrolífera na vizinha Guiana concentra-se num tipo de terreno geológico-ambiental classificado como bacia sedimentar.
O que é uma bacia sedimentar? É uma depressão topográfica de grande extensão, como o Vale do Rio Taubaté, por exemplo, na qual, ao logo dos tempos vão sendo depositados fragmentos de erosão das áreas elevadas que a margeiam e transportados para a bacia por rios, geleiras ou ventos, juntamente com restos de animais ou de plantas, como pedaços de conchas, de folhas, de ossos etc. Os sedimentos vão sendo depositados lentamente, os mais novos cobrindo os mais antigos, enchendo a bacia. O resultado é uma pilha de rochas de diferentes idades, que podem revelar a história da região durante a sedimentação. Entre outros, essas bacias contém recursos de água subterrânea, de rochas como calcário e carvão mineral, acumulações de minerais resistentes como ouro, cassiterita, diamante e ilmenita e, se as condições forem adequadas, petróleo e gás. No mapa ao lado estão mostradas as maiores bacias sedimentares do Brasil. No total atingem 6.430.000 km2 (64% do território nacional), dos quais 4.880.000 km2 em terra e 1.550.000 km2 na plataforma continental.
O petróleo dessas bacias é originário de decomposição de matéria orgânica acumulada com os sedimentos. Para que existam depósitos econômicos de petróleo e gás é necessário que essas bacias tenham rochas geradoras, rochas acumuladoras e estruturas que favoreçam a acumulação do petróleo e do gás. Rochas geradoras são aquelas que que contém material orgânico em quantidade suficiente para gerar volume significativo de petróleo ou gás. Rochas acumuladoras são rochas porosas e permeáveis, que constituem reservatórios para gás e petróleo. O petróleo e gás produzido nas rochas geradoras é mais leve que a água dos sedimentos e migra para cima, através da coluna de sedimentos. O fluxo ascendente é interrompido onde encontra uma camada impermeável à sua ascenção, como uma camada de argila. Se a rocha sob essa argila for acumuladora, isto é, tiver grande volume de espaços vazios, o petróleo e o gás podem acumular aí até atingir grandes volumes. Essa acumulação é ainda maior onde houver falhamentos e dobramentos das rochas, formando “traps”, ou armadilhas, de onde o petróleo e o gás não podem mais sair.
Voltando à Guiana, a exploração do petróleo/gás naquele país acontece na bacia sedimentar do Tacutu, que tem cerca de 30.000 km². Parte dessa bacia, cerca de 12.000 km², está no Brasil, dentro do estado de Roraima. A Bacia de Tacutu originou-se do mesmo movimento tectônico (separação dos continentes) que produziu as bacias cretácicas produtoras de petróleo da costa do Brasil, como a a do Recôncavo, na Bahia, e a Potiguar, no Espirito Santo. A Bacia do Recôncavo tem um terço do tamanho da bacia do Tacutu, produz há mais de 50 anos e, mesmo assim, ainda hoje se descobrem novos campos produtores de óleo.
Entretanto, o que já se fez na bacia do Tacutu, aqui no Brasil, até hoje? Muito pouco. Na década de
O mapa ao lado, copiado do site da Groundstar, mostra a posição da Bacia do Tacutu na região de fronteira entre o Brasil e a Guiana. Mostra também a localização dos principais alvos de pesquisa da companhia. Na Guiana já houve produção de petróleo. Segundo artigos dos geólogos Jaime Fernandes Eiras e Joaquim Ribeiro Wanderley Filho, que já trabalharam para a Petrobrás, "houve produção inicial (1982) de 409 barris de óleo/dia, em basalto atravessado no fundo do poço Karanambo 1. Após a completação, o poço passou a depletar, chegando a produzir por pistoneio, água salgada e apenas 60 barris de óleo/dia. Como o poço foi perfurado sobre um amplo arco regional, acredita-se que situações geológicas mais favoráveis poderiam ser encontradas em zonas mais tectonizadas". De acordo com estes mesmos geólogos, o tipo de acumulação da Bacia do Tacutu é similar ao da Bacia do Solimões e, por isto, tem grandes chances de também conter petróleo, já que na do Solimões “a Petrobrás produz diariamente cerca de 57 mil barris de óleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás".
Essa questão da necessidade de se voltar a pesquisar petróleo/gás na bacia do Tacutu é tão séria que foi, inclusive, tema de tese de dourado no Instituto de Geociências da UFRJ: “Análise Tectono-estratigrágica da Bacia do Tacutu
Já em
Grande parte da porção brasileira da Bacia do Tacutu está dentro da área da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Ou seja, como se não bastasse haver nióbio, tântalo, ouro e diamantes, na Raposa Serra do Sol também tem petróleo e/ou gás.
Além disso, há outra coisa muito importante que precisa ser observada. Esta semana, o escritor Félix Maier publicou um artigo sobre uma nova demarcação de reserva indígena pretendida pela FUNAI e pelo Instituto Sócio Ambiental (ISA): a dos Cué-Cué Marabitanas, no Amazonas. A descrição geográfica da posição desta Terra Indígena (TI) feita por Maier impressiona:
"Na extremidade sul da TI Cué-Cué Marabitanas fica a cidade de São Gabriel da Cachoeira... Entre a TI Balaio, a leste (que, por sua vez, já faz fronteira com a TI Ianomâmi); a TI Alto Rio Negro, a oeste; a TI Médio Rio Negro I, ao sul; e a Venezuela, ao norte. Abaixo da TI Alto Rio Negro, existe ainda a TI Rio Apapóris (próximo à Vila Bittencourt). E a leste da TI Médio Rio Negro existem as TI Médio Rio Negro II e TI Rio Tea. Abaixo da TI Médio Rio Negro I - depois de uma faixa de terra ainda não pleiteada pela Funai para os indígenas - existe a TI Uneiuxi. Todas estas TI ficam no Amazonas. Com as demarcações de Balaio e Cué-Cué Marabitanas, o município de São Gabriel da Cachoeira terá 90% de suas terras destinadas aos índios!" Observem o mapa acima (clique para ampliar).
A criação da Reserva Indígena Balaio foi feita depois que o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão do Ministério de Minas e Energia, identificou Seis Lagos, um imenso depósito de nióbio logo a norte de São Gabriel da Cachoeira. Esse depósito pode ser até maior que o maior depósito de nióbio hoje conhecido no mundo, que é o de Araxá,
Mas, as ambições não param por aí. A pretensão da FUNAI e do ISA é juntar todas estas terras indígenas numa única, que receberia o nome de TI Balaio (veja mapa ao lado), na qual São Gabriel da Cachoeira estaria COMPLETAMENTE inserida. Acompanhando todas as demarcações de TI(s) e de reservas ambientais na região da Amazônia Legal e até nas suas redondezas, pode-se observar a formação de um corredor de riquezas com importância estratégico-geográfica impressionante. Uniria o Oceano Atlântico ao Pacífico, partindo da Guiana e passando pelo Brasil e Colômbia.
Olhando o mundo a partir da suposição de uma Terceira Guerra Mundial, quem tiver o domínio sobre esta região do ‘corredor’ estará muito bem arranjado. Sobre isso, leiam “Coloquem os óculos, senhoras e senhores: enxerguem!”. O imortante é começar a pensar sobre quais seriam as razões por trás da construção deste corredor...
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