sábado, 25 de outubro de 2008

SUICÍDIO COLETIVO E O ASSASSINO INVISÍVEL DE SANTO ANDRÉ

Por Rebecca Santoro
22 de outubro de 2008

Eu tinha pensado em escrever algo sobre mais essa de tantas tragédias que já aconteceram nesse país envolvendo a morte de jovens e adolescentes. Dessa vez foi em Santo André, São Paulo. Mas, quando li o que a juíza Marli Nogueira escreveu sobre o fato, resolvi adotar o artigo, porque, como se costuma dizer nesses casos, 'tirou daqui' (da minha boca, da minha fala, do meu pensamento). Realmente, concordo com ela quando diz que não fosse pelo 'politicamente correto' o desfecho do episódio muito provavelmente teria sido outro - e não tão desastroso para as vítimas do seqüestro.

Um dos erros foi sempre ter tratado o criminoso como um rapaz bom que apenas estivesse sofrendo de um surto passageiro de ciúmes em relação à sua ex-namorada e/ou de não aceitação de uma rejeição por parte da mesma. Não. Ninguém surta de véspera. Ou seja, ninguém se programa para cumprir uma vingança, encontra uma arma, munição, planeja oportunidade - tudo num surto, num momento de desespero. O crime foi premeditado, planejado - um colega de trabalho do assassino já sabia sobre os planos de Lindembergue para matar Eloá.

Friamente, Lindembergue enganou a todos os envolvidos no episódio, fazendo-se de emocionalmente instável, indeciso entre acabar com tudo, matando Eloá e até a si mesmo, ou libertar as reféns e entregar-se à polícia. Fez com que todos se enganassem sobre o que sempre fora sua determinação, desde o começo do seqüestro: vingar-se de Eloá, tirando-lhe a vida. Sim, sempre foi esta a sua determinação e não importa o que acontecesse - a menos que tivesse sido alvejado pela polícia -, ele assim teria procedido, matando Eloá, com ou sem invasão da polícia. Tanto foi assim que a amiga da menina, a também adolescente de 15 anos Naiara, depois de já ter sido libertada do cativeiro, resolveu, um dia depois (e aqui realmente houve falha da polícia, por permitir que Naiara se aproximasse da porta do apartamento sem a escolta de um policial que a tivesse impedido de seguir o impulso de voltar ao cativeiro), deliberadamente retornar ao cativeiro. É claro que Naiara fez isso porque acreditava que Lindembergue cairia em si e que jamais chegaria às vias de fato em cumprir suas ameaças.

Entretanto, agora se sabe que, caso tivesse se tratado de surto de adolescente apaixonado e descontrolado, certamente, o assassino não teria hesitado em se matar logo depois de ter baleado Eloá e talvez nem tivesse atingido a amiga Naiara. Mas não, ele atirou contra as meninas indefesas, atirou contra a polícia e, depois que sua munição acabou (uma das balas falhou, sabe-se agora), simplesmente o malandro colocou a arma no chão, as mãos para o alto e se rendeu. Ou seja, um covarde - como o são todos os frios assassinos.

Se houve alguma falha da polícia foi a mesma que cometeram todos os envolvidos: acreditaram que se tratasse apenas de um jovem descontrolado por ciúmes. Não. Era um assassino descontrolado por ciímes. São coisas bem diferentes. A polícia demorou a perceber que se tratasse desta segunda situação. Os policiais que estiveram lá, durante o seqüestro, sabem exatamente do que eu estou falando. Deram todas as chances que poderiam para ver configurada a primeira hipótese. Mas, infelizmente, para todos os envolvidos e para todos nós que, querendo ou não, acabamos acompanhando o caso, o que se confirmou foi a segunda. Por isso, a decisão de se preparar para a invasão do cativeiro - o apartamento onde morava Eloá. Havia escutas e informações de que o rapaz se preparava para assassinar as meninas, com ou sem invasão. O assassino sabia da movimentação policial no sentido de invadir o apartamento e sabia, igualmente, que já não conseguiria enganar mais ninguém por mais tempo.

Por que não alvejaram o assassino quando, aparentemente, tiveram esta chance? Ora, como bem o disse o comandante do GATE, a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, porque a mídia inteira e os representantes dos direitos humanos cairiam em cima da polícia, como urubu sobre carniça, dizendo que não se deveria ter matado um jovem de 22 anos que apenas estava descontrolado, com toda uma vida pela frente para se arrepender, blá, blá, blá... Alguém tem a menor dúvida de que era exatamente isso o que aconteceria?

Se houve ou não disparo de tiro por parte de Lindembergue antes da explosão da porta do apartamento pela polícia e da invasão não se sabe ao certo. Os policiais dizem que sim, a imprensa e os 'especialistas de plantão' dizem que não. A Globo não tem mostrado, mas a Record apresentou, com exclusividade, uma outra gravação, feita de local bem próximo ao do cativeiro, na qual se ouve, nitidamente, um primeiro disparo de arma de fogo, antes da explosão da porta do apartamento onde as meninas eram mantidas como reféns. A nova advogada do assassino já se apressou em dizer que ele não atirou nas meninas antes da invasão da polícia... Ah, bom! Então o 'pobrezinho' só atirou nas duas meninas - em sua ex-namorada e em sua amiga (e não em duas desconhecidas) - por causa do susto... Estava tão assustado que mirou na cabeça e na virilha de uma e na cabeça da outra, correu para o corredor e começou a atirar em direção aos policiais que invadiam o apartamento e, depois, como já descrevi, rendeu-se como um covarde. Ora, isso não é atitude de gente desesperada e sim de gente má, sanguinária, vingativa e, repito, COVARDE!

Vejam o que o próprio assassino diz sobre os tiros, nos vídeos abaixo, de reportagem exclusiva da Record (o vídeo da reportagem foi retirado do ar pela emissora).

Se a polícia não tivesse invadido aquele apartamento naquela altura, o mais provável é que nem Naiara tivesse conseguido ser salva. Essa é a verdade. E é verdade também que, mesmo que Lindembergue não tenha disparado contra as meninas antes da invasão do apartamento pelos policiais, o testemunho de Naiara, muito provavelmente, confirmará a versão dos policiais (a de que houve disparo por parte do assassino antes da invasão), para não permitir que haja nem uma espécie qualquer de atenuante que possa vir a diminuir a pena com a qual Lindembergue venha a ser condenado. Ele é um assassino frio que merece a pena máxima de 30 anos a ser cumprida INTEGRALMENTE em regime fechado (se é que existe esta possibilidade aqui neste país).

Outra coisa que ninguém fala é sobre o fato de que uma menina de 12 anos (a idade em que Eloá teria começado o namoro com Lindembergue) não deveria ter podido namorar com um jovem de 19 anos. Nesta fase da vida, essa diferença de idade entre os dois configurava praticamente um quadro de pedofilia. Meninas de 12 anos são meninas. Rapazes de 19 anos já são homens. Ninguém viu isso? Tudo bem, às vezes os pais não conseguem mesmo impedir que seus filhos cometam erros. Mas, por três anos seguidos????

Igualmente, há sempre os oportunistas de plantão para falar de 'desarmamento'. Se o jovem não tivesse tido acesso à uma arma de fogo... Ora, se ele não tivesse tido acesso a uma arma de fogo, teria cometido o crime com outra arma qualquer, para começo de conversa, e talvez até de forma bem mais perversa e dolorosa para as vítimas. Assim são, afinal, cometidos a maior parte dos assassinatos chamados de 'passionais' - sem arma de fogo. Dizem que o rapaz estaria com duas armas - uma sua (é claro, ilegal) e a outra que teria sido conseguida dentro da própria casa da vítima. Agora que se sabe que o pai de Eloá era um ex-PM de Alagoas que estava sendo procurado naquele Estado sob a acusação de ter cometido vários assassinatos, pode-se deduzir, obviamente, que, na convivência com a família, durante os três anos de namoro, Lindembergue devesse saber, perfeitamente, da existência de uma arma de fogo na casa de Eloá. E, naturalmente, foi atrás da arma para que suas vítimas não pudessem tentar reagir contra ele, em futura oportunidade, com aquela arma. Tanto é assim, que ele jamais a tenha utilizado durante o seqüestro.

Entretanto, se tanto Eloá como Naiara tivessem tido noções de defesa pessoal e até mesmo de manuseio de armas de fogo, quem sabe o desfecho do caso não tivesse sido outro? Afinal, as meninas estiveram, na maior parte do tempo, em duas e o assassino era um só. Há vários casos no quais as prováveis futuras vítimas fatais de determinada ação violenta, em se vendo diante de uma situação extrema de 'matar ou morrer', conseguiram reagir com armas de fogo, matando ou afugentando seus algozes - todos, no fundo, uns grandes covardes.

Enfim, fico com o que disse, em coletiva, o comandante Gate, que defende a ação da tropa: “O Gate não errou, quem errou foi o Lindemberg. Ele errou de ter procurado uma arma, premeditado o seqüestro, ficar lá cinco dias e fazer o que fez no final. A única pessoa que errou foi ele”.

Tudo bem, a gente sabe que não foi só o marginal que errou. Temos vindo errando todos nós, pessoas de bem, e não é de hoje e nem somente sobre esta questão de como lidar com a violência. Temos permitido que não só o discurso, mas também a prática, cada vez mais institucional, do 'politicamente correto' subverta nossos valores, relativize nossas noções de certo e de errado, bem como de verdade e de mentira. Mesmo que não concordemos com o que se fale e com o que se faça, temos permitido, muitas vezes, que a mentira vire Lei e que quem não esteja de acordo simplesmente seja transformado em criminoso.

Esta falta de noção moral, de solidez de princípios, de apoio social e coletivo às atitudes individuais que deveriam tranqüilamente se enquadrar entre as corretas, as normais, fazem com que não saibamos como reagir a uma série de estímulos para os quais deveríamos ter respostas imediatas - todas a favor da vida, do correto, do justo, do humano. Ao contrário, todos os transgressores sabem exatamente como nos atacar, sem um segundo qualquer de reflexão que seja sobre nenhuma dúvida - todos eles cerebralmente preparados para justificar suas atitudes com base em tergiversações sobre os fatos, sobre a realidade e, principalmente, sobre o certo e o errado. São sociopatas, intencionalmente produzidos por anos e anos de pregação ideológica, SEM NENHUMA CENSURA, incapazes de raciocinar para além daquilo que foi programado em seus cérebros. São zumbis sociopatas que formam um exército teleguiado de revolucionários em potencial, prontos para aniquilar os seres honestos, produtivos e pensantes das sociedades.

O que acontece é que temos falhado no combate à violência, no resgate dos valores familiares, na retomada do ensino competente nas escolas, baseado, principalmente, em fatos históricos verdadeiros, porque estamos todos a cometer o mesmo erro que a polícia e todos os envolvidos no seqüestro de Santo André cometeram: acreditaram que estivessem lidando com uma pessoa normal, de boa índole, de bons princípios e que estivesse apenas tendo um surto de descontrole emocional. Não, senhoras e senhores, estamos lidando com indivíduos "sobre ou sub-humanos", como queiram, cujos cérebros, de tão deformados, os transformaram quase que numa outra espécie de seres viventes que, em comum conosco, só têm mesmo, e praticamente, a carcaça - o corpo e suas funções biológicas.

A verdade, que ninguém quer admitir que já enxerga, é que chegamos ao impensável. Chegamos ao ponto crucial de 'ou eles ou nós' e, por incrível que pareça, estamos deixando que nos matem, a todos, um por um, sem esboçarmos reação. Fica todo mundo tentando ficar o mais invisível possível (escondendo suas riquezas, suas conquistas, seus dotes físicos e mentais), para ver se consegue ficar o maior tempo possível (se puder, quem sabe, com sorte, a vida toda) sem ser agredido pela violência do faroeste das ruas e/ou do patrulhamento social e ideológico. Assim, pode ser que realmente consigamos sobreviver até um fim, digamos, natural, de nossas vidas egoístas. Mas, com certeza, deixaremos um mundo no qual será impossível para nossos filhos e netos sobreviverem até o mesmo fim. Nossa covardia nos exterminará a todos e a nossos descendentes.

Pois é, eu falei que não iria escrever e acabei escrevendo. Mas, não deixem de ler o excelente artigo da juíza Marli Nogueira e, depois, a fábula do que seria a estória do Chapeuzinho Vermelho sob o politicamente correto. Ela acaba sendo responsável pelo seu extermínio - só que inconscientemente, como um estúpido zumbi mentalmente deformado.

Assassino invisível

Marli Nogueira
Juíza do Trabalho
Brasília
Tenho ouvido as mais disparatadas opiniões a respeito do seqüestro em Santo André, inclusive de pessoas que, em razão de sua autoridade, tinham a obrigação de não ser tão superficiais. Há quem diga, por exemplo, que ele resultou de uma "arraigada cultura machista". Mentira! Ele resultou, isso sim, de uma paixão, doença da alma que, na ausência de antídotos fortes que só podem ser produzidos mediante uma excelente formação moral que dê estrutura ao indivíduo, acaba extravasando de seus bordos e causando tragédias como essa. Paixão, como essas autoridades deveriam saber, deriva do termo grego pathos, que significa exatamente "doença". Dele vêm os demais termos ligados ao mesmo tema, como "patologia" e "patológico". E, como doença da alma, pode acometer homens ou mulheres. Aliás, não são tão raros assim os casos de mulheres que matam seus maridos por ciúmes, exatamente como fez o rapaz de Santo André. Pretender utilizar esse caso para estimular mais desavenças, colocando mulheres contra homens, é, no mínimo, uma irresponsabilidade.

Outra opinião completamente distorcida é a de que o crime decorre da "permissão exagerada" do uso de armas. Mais uma mentira da grossa! Ou será que alguém imagina que o seqüestrador-assassino comprou a sua arma em um estabelecimento comercial autorizado, mediante a apresentação do porte de armas e, ainda por cima, a registrou regularmente? Ele mesmo afirmou que "comprar uma arma é facílimo". E é mesmo. Basta contatar um bandido qualquer, pagar-lhe o preço solicitado e pronto. Esse papo de desarmamento (que fatalmente voltaria à baila após o "sucesso" da Lei Seca) é conversa mole para boi dormir. O Brasil somente poderá aceitar uma política de desarmamento no dia em que o governo conseguir impedir por completo a entrada de armas contrabandeadas no país. E não só isso. Deverá, primeiro, retirar as armas de todos os bandidos. Onde já se viu deixar a população desarmada em meio a milhares (ou milhões, talvez) de bandidos que as utilizam para matar cada um de nós? Desproteger os justos enquanto não se toma medida alguma contra os injustos é o cúmulo da injustiça.

Não sejamos hipócritas! Na verdade, o grande responsável pela morte da adolescente Eloá foi o "politicamente correto", esse assassino invisível de valores, que tantas conseqüências desastrosas já acarretou. Se a sociedade entendesse que o correto é punir o agressor e defender a vida da vítima, ela certamente não estaria morta agora. Seu seqüestrador sim, poderia estar em seu lugar. É exatamente para preservar a vida da vítima em mãos de bandidos como ele que a polícia possui atiradores de escol. Mas ai da polícia se resolvesse se valer de algum desses atiradores para, à custa da vida de seu seqüestrador, salvar a menina-refém! Toda a turma dos Direitos Humanos e dos defensores do Estatuto da Criança e do Adolescente estaria, agora, vociferando contra a instituição.

Essa gente parece não compreender que a partir do momento em que alguém decide, deliberadamente, infringir todas as regras da boa convivência, deve arcar com os custos dessa decisão. Punir os maus e defender as suas vítimas não é favor algum, mas uma obrigação. Até os antigos gregos já sabiam disso. Ensina Platão que quando Hermes indagou a Zeus se deveria distribuir a arte da justiça e do respeito a todos os homens, indistintamente, este respondeu: "A todos. Que todos os compartilhem, porque as Cidades não poderiam surgir se apenas poucos homens os detivessem, assim como acontece com as outras artes. Aliás, em meu nome, estabeleça como lei que aquele que não sabe compartilhar o respeito e a justiça seja morto como um mal da Cidade".

Mas como há séculos a humanidade vem se afastando cada vez mais dos valores que plasmaram a nossa civilização, a própria vida se encarrega da cobrar-lhe por esse desatino, e de maneira impiedosa. Casos como esse só podem mesmo resultar em tragédias, com imensa dor não apenas para a família das vítimas, como para todos os homens e mulheres de bem que ainda se pautam pelos poucos valores que ainda nos restam. Mas esses casos não constituem mais novidade alguma. Cada vez se tornam mais freqüentes e também mais violentos. E assim continuará sendo até que a sociedade, cansada de iniqüidades e dos discursos retóricos que lhes dão ensejo, resolva pôr um basta a esse estado de coisas, retomando os valores que permitiram sua agregação. E um deles é, justamente, o de fortalecer (em todos os sentidos) aqueles que, como a polícia, existem para protegê-la.

Chapeuzinho Vermelho (politicamente correto)


Era uma vez uma jovem chamada Chapeuzinho Vermelho que vivia à beira de uma grande floresta com árvores e plantas exóticas num belo exemplo de integração entre utilização natural dos recursos e urbanização. Chapeuzinho Vermelho vivia com sua genitora, à qual ela tinha o hábito de chamar como "mãe". No entanto, a utilização deste termo não implicava que ela trataria com menos respeito outras pessoas com as quais ela não tivesse uma grande ligação biológica. Da mesma forma ela não pretendia denegrir ou menosprezar os valores tradicionais das estruturas familiares. De qualquer forma, Chapeuzinho insiste em registrar que lamenta se alguma destas impressões pejorativas possam ser deduzidas desta estória.

Um dia, a Mãe de Chapeuzinho Vermelho pediu que ela transportasse uma cesta de frutas sem tratamento químico, e água mineral para a casa de sua avó.
- "Mas, mãe, tal iniciativa não seria roubar o trabalho de pessoas sindicalizadas que lutaram anos a fio pelo direito de exercer sua atividade profissional na qualidade de transportadores?"

A Mãe de Chapeuzinho garantiu-a que todas as formalidades já haviam sido providenciadas junto ao sindicato de transportadores e o formulário autorizando esta missão autônoma já estava devidamente carimbado.

- "Mas, mãe, você não está me oprimindo com esta ordem?"

A Mãe explicou-lhe que é impossível que uma mulher oprima outra mulher, posto que todas as mulheres são igualmente oprimidas por uma sociedade machista.

- "Mas, mãe, não deveria ser o meu irmão, na sua condição de opressor, que deveria se encarregar desta tarefa no intuito de aprender a condição de oprimido?"

A Mãe lembrou-lhe que seu irmão estava participando de uma passeata pelos direitos dos animais. Além disto, a tarefa em questão não poderia ser considerada uma típica tarefa feminina, mas sim uma atitude que visava o sentimento de comunhão e companheirismo entre mulheres.

- "Mas, mãe, não estaríamos, então, oprimindo a Vovó, através da mensagem subliminar de que ela esteja velha demais para garantir sua própria subsistência?"

A Mãe lhe assegurou que Vovó não estava doente nem incapacitada nos planos físico e mental, ainda que nenhuma destas condições implicassem considerar alguém inferior a pessoas ditas saudáveis.

Convencida e segura de seus atos, Chapeuzinho Vermelho partiu pela floresta. Várias pessoas consideram a floresta um lugar perigoso, mas Chapeuzinho sabia que este tipo de medo irracional está baseado em paradigmas culturais impostos por uma sociedade patriarcal que encara a natureza como um conjunto de recursos a serem explorados, e, que, por esta razão, acredita que predadores naturais são adversários. Outras pessoas evitavam a floresta por medo de ladrões e de marginais, mas Chapeuzinho acreditava que, numa sociedade justa e não hierárquica, todas as pessoas poderiam exercer seu direito de viver segundo suas próprias regras, sem serem taxadas de "marginais".

No caminho, Chapeuzinho passou por um lenhador e observou algumas flores; porém, momentos após, ela se viu frente a um lobo que lhe perguntou o que ela carregava na cesta. Chapeuzinho, lembrando-se que sua professora havia recomendado prudência quanto a estranhos que tentassem falar com ela, hesitou. No entanto, segura de si e consciente de sua sexualidade, decidiu responder ao lobo:

- "Eu estou levando mantimentos saudáveis para a minha Avó num gesto de solidariedade."

O lobo, então, comentou que não era seguro para uma menina passear pela floresta sozinha.

- "Eu me sinto completamente ofendida pelo seu comentário sexista. Apesar disto eu decidi ignorá-lo por causa do seu status social de excluído. A pressão da sociedade é a verdadeira responsável pelo desenvolvimento deste seu ponto de vista alternativo. Agora, com licença, pois vou retomar o meu caminho".

O lobo, provavelmente devido à sua condição de excluído, pôde adotar um pensamento não-linear, fora dos padrões ocidentais e da moral judaico-cristã, que o levou a utilizar um caminho alternativo para chegar antes de Chapeuzinho à casa da Vovó. Lá chegando, devorou (lato sensu) a Vovó, numa ação afirmativa de sua condição de predador desprovido de escrúpulos. Então, movido por noções rígidas e tradicionais de comportamento, o lobo vestiu a camisola da Vovó e deitou-se na cama, cobrindo moralisticamente todas as suas partes que poderiam denunciá-lo (anatomicamente falando).

Chegando à casa da Vovó, Chapeuzinho sentenciou:

- "Vovó, eu lhe trouxe um lanche gratuito para saudá-la em sua condição de sábia e madura matriarca!"

O lobo respondeu suavemente:

- "Venha cá, minha netinha para que eu possa te ver ..."

- "Nossa! Vovó, que olhos grandes que você tem!"

- "Você esquece que eu tenho certas deficiências visuais totalmente compatíveis com minha idade, apesar disto não afetar em nada minha capacidade ou qualificação como ser humano é válido para a sociedade."

- "E Vovó, que nariz enorme você tem ..."

- "Naturalmente, eu poderia ter mudado isto, mas resolvi não ceder às pressões sociais da estética e do consumismo."

- "E Vovó, que dentes afiados você tem ..."

Nisso, o lobo, não agüentando mais o proselitismo da discussão e numa típica reação de seu meio social, saltou da cama pegando Chapeuzinho, abrindo a bocona... Chapeuzinho, reconhecendo o lobo, retorquiu:

- "Eu creio que você está esquecendo de me pedir permissão para aumentar o nosso nível de intimidade."

O lobo, surpreso, ficou sem ação e, neste momento, o lenhador entra pela porta agitando seu machado:

- "Não se mexa!"

- "O que você pensa que está fazendo?" Perguntou Chapeuzinho. "Se eu lhe deixo me ajudar agora, eu estarei expressando uma falta de confiança em mim mesma e em minhas capacidades - o que causaria uma tremenda falta de auto-estima que poderia se refletir inclusive no meu desempenho escolar."

Porém, o lenhador não se intimida e responde:

-"Última chance baby, afaste-se desta espécie protegida, eu sou um agente credenciado do IBAMA".

Como Chapeuzinho não considerou fundamentada a imposição imperialista e policial, o lenhador, num movimento seco, deu uma machadada certeira na contraventora.

- "Ainda bem que você chegou a tempo!" - disse o lobo aliviado.

- "Esta jovem e sua Avó haviam me capturado nesta ideologia de violência".

- "Não." - diz o lenhador - "A verdadeira vítima aqui sou eu, que tive que lidar com minha raiva profunda e encarar de frente todos os meus fantasmas. E ainda vou ter que lidar com o imenso trauma de ter tido contato com uma parte violenta da minha essência, para a qual minha formação pessoal não estava preparada a enfrentar".

- "Eu sinto sua dor", condescendeu o lobo.

E os dois se abraçaram fraternalmente.

A MENTIRA VENCE E CORONEL USTRA É RESPONSABILIZADO, PELA JUSTIÇA, POR TORTURA.

Por Rebecca Santoro/Christina Fontenelle


PRIMEIRO, VEJAM O QUE FOI NOTICIADO PELOS JORNAIS (o grifo em vermelho, abaixo, é meu):


Ex-chefe do DOI-Codi é responsabilizado por tortura pela Justiça


Baseado em reportagem do G1


09/10/08


O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra foi responsabilizado pelo crime de tortura em um processo que buscava que ele fosse declarado responsável por atos de violência no período do regime militar. Em setembro, foi extinto outro processo semelhante movido contra o coronel por parentes do jornalista Luiz Eduardo Merlino, morto em 19 de julho de 1971. Na decisão julgada procedente, ele foi considerado responsável por violências cometidas contra César Augusto Teles, Maria Amélia de Almeida Teles e Criméia Alice Schmidt de Almeida.

Inédita no país, a decisão foi proferida nesta terça-feira (7) pelo juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível, do Fórum João Mendes, no Centro. No entanto, cabe recurso da defesa. Tanto no processo movido pela família Teles quanto no caso dos parentes do jornalista, Ustra não é alvo de pedidos de indenização.


Ainda em 2006, quando um dos processos começou a ser julgado, Amélia já afirmava que a família não buscava indenização do Estado ou prisão. "É uma ação de efeito político, que vai trazer reconhecimento de que um coronel do Exército, na época major, era torturador", explicou Amélia na ocasião. Mas, as ‘vítimas’ já foram indenizadas pelo Estado, como se poderá ler abaixo, de acordo com a lei de Indenização. Além disso a sentença estabelece que, ao ser apontado como o responsável pelas torturas, o réu arcará com custas, despesas processuais e honorários dos advogados dos autores, fixados estes em dez mil reais.”


Para o juiz, “existe relação jurídica de responsabilidade civil” entre as vítimas e o réu “nascida da prática de ato ilícito, gerador de danos morais”. Já em relação a Janaina de Almeida Teles e Edson Luis de Almeida Teles, filhos de César Augusto e Maria Amélia, o juiz considerou improcedente a acusação de que também teriam sido torturados. “Realmente, as testemunhas não viram Janaina e Edson na prisão. Ninguém soube esclarecer se os então menores realmente viram os pais com as lesões resultantes das torturas. Nada indica que eles teriam recebido ameaças de tortura, ou sido usados como instrumento de tortura de seus pais”, alegou.


O militar é ainda réu em outra ação declaratória no Fórum Cível da capital paulista. Além disso, ele sofre um terceiro processo na Justiça Federal, que apura seu suposto envolvimento em seqüestros e espancamento de militantes de organizações clandestinas.


O advogado de defesa de Ustra, Paulo Esteves, disse que vai apelar da sentença, que, segundo ele, vai contra as provas dos autos. "Inclusive, temos provas de que o meu cliente estava hospitalizado, devido a uma operação, no período que as pessoas alegam terem sido vítimas de violência. Ele (Ustra) nega que tenha participado de qualquer ato de violência naquela época", disse. Para o advogado, a sentença desta terça colide com outra da Justiça em um processo que foi extinto no final de setembro. No dia 23, os três desembargadores da 1ª Câmara de Direito Privado decidiram a favor do recurso impetrado pelo coronel e, por maioria – ou seja, dois votos a um –, extinguiram o processo sem exame do mérito. A decisão foi do relator Luiz Antonio de Godoy, do 2º juiz De Santi Ribeiro e do terceiro desembargador Elliot Akel. "Antes da sentença deste processo, pedi que aguardassem a publicação do acórdão do processo anterior (de setembro). O tipo de medida jurídica é a mesma, o advogado é o mesmo nos dois processos, só mudam as vítimas. Naquele processo, o juiz entendeu que não havia fundamento processual para que o meu cliente pudesse ser julgado", explicou.


Apesar da sentença do Tribunal de Justiça, o julgamento foi apenas moral e político, já que Ustra foi beneficiado pela Lei de Anistia, de 1979, que impede que pessoas que tenham cometido crimes políticos na época da ditadura sejam processadas.


AGORA, LEITORES, VEJAM OS FATOS ABAIXO:


RECORDANDO

Christina Fontenelle

19/10/2006


Criméia era mulher do filho do chefão da Guerrilha do Araguaia, Mauricio Grabois, e que ela estava na área de guerrilha quando ficou grávida. Ao contrário das outras guerrilheiras, que eram obrigadas a abortar, Criméia, protegida pelo comandante da área, foi mandada para São Paulo para ter o filho, onde acabou sendo presa e encaminhada para Brasília. Segundo o relato do coronel, foi lá, no Hospital Militar, que Criméia teve seu filho, com todo apoio e assistência, inclusive, da esposa do General Bandeira que, na ocasião, levou-lhe um pequeno enxoval.


Hoje um adulto, esse filho de Criméia, de nome Joça Graboi (cuja mãe havia optado por ser guerrilheira e cujo pai nem ao menos acompanhara a mãe grávida para que tivesse o bebê em São Paulo), no segundo semestre do ano passado, conseguiu uma indenização, concedida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e assinada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, por ter estado “preso” em dependências militares.

Maria Amélia (irmã de Criméia) e o marido foram presos em um “aparelho de imprensa” do PCdoB, em dezembro de 1972. Na ocasião, estavam com eles os dois filhos do casal. Todos foram conduzidos para o DOI, já que as crianças não poderiam ficar sozinhas. Quando falei com os pais, senti que estavam preocupados quanto ao destino dos seus filhos. Perguntei se tinham algum parente em São Paulo que pudesse tomar conta deles. Responderam que as crianças tinham tios, creio que em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro, não me recordo exatamente onde. Pedi o telefone desses parentes para avisá-los do que acontecia e perguntar se poderiam vir a São Paulo e apanhar os dois filhos do casal. O contato foi feito e esses familiares pediram alguns dias de prazo até poderem se deslocar à capital paulista. Decidi que enquanto aguardávamos a vinda dos tios, as crianças permaneceriam sob o cuidado do Juizado de Menores. Nesse momento, tanto Maria Amélia quanto César Augusto, imploraram que seus filhos não fossem para o Juizado. Uma policial militar que assistia o nosso diálogo se ofereceu para ficar com Janaina e Edson Luis, filhos de Maria Amélia e César Augusto, desde que estes concordassem com o oferecimento, o que foi aceito na hora pelo casal. Movido mais pelo coração do que pela razão, achei que essa era a melhor solução. As crianças foram levadas para a casa da agente e, para que não sentissem a falta dos pais, diariamente eram trazidas para ficar algum tempo com eles. Isso se repetiu até a chegada dos parentes. Nesse dia Janaina e Edson Luis foram entregues aos seus tios, na presença de seus pais”.(Depoimento do Coronel Ustra - Leia tudo em http://www.ternuma.com.br/bancodosreus.htm)


Consideração Talvez, Reconhecimento Nunca


Christina Fontenelle
19/10/2006


Os militares das FFAA devem estar tremendamente agradecidos à homenagem que o programa dominical da TV Globo, o Fantástico, prestou neste último domingo (15/10) a todos aqueles que, ganhando um salário bem inferior ao que deveriam, levando-se em consideração a sua formação, o tipo e a carga horária de trabalho, estiveram e ainda estão trabalhando incessantemente, no meio da floresta amazônica, para trazer de volta os corpos das vítimas do acidente aéreo com o avião da Gol (vôo 1907), para que os familiares possam enterrar seus mortos.


Estiveram lá os militares, no local do acidente, levando dois padres e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, para a qual improvisaram uma capela. O Fantástico mostrou as imagens. Aliás, imagens do trabalho destes homens é que não têm faltado. Em “off” a gente sabe que faltaram melhores equipamentos; que o pessoal da Aeronáutica é que teve que assumir o tratamento com os parentes das vítimas, já que houve problemas no relacionamento dos mesmos com o pessoal relativamente novo da ANAC; que o governo não investiu e mal liberou verbas para a manutenção adequada dos equipamentos, tanto para os serviços de controle aéreo quanto para as FFAA em geral; mas, enfim, o que interessa é que os militares têm sido incansáveis nesse episódio trágico da história da aviação brasileira.

Nada mais oportuno, portanto, do que a consideração e o reconhecimento demonstrados pela Rede Globo ao levar ao ar, também no Fantástico o tema “Relações de Poder”, apresentado no quadro semanal de lavagem cerebral (já que não há direito a réplica de opiniões em contrário) - “Ser ou Não Ser” – que pretende popularizar a filosofia. A inserção, com roteiro de Daniel Rocha, tem cerca de 9 minutos e é apresentada por sua mulher, Viviane Mosé, que é psicóloga, psicanalista, doutora em filosofia pela UFRJ e escritora. Publicou, entre outros, os livros de poesia “Escritos” (1990), “Toda palavra” (1997), “Pensamento chão” (2001) e mais recentemente “Desato”, no qual admite ter vivido a experiência da poesia do dia-a-dia, em que receitas culinárias transformam-se em poesia. Viviane tem muitos admiradores no meio artístico, entre eles a cantora Beth Carvalho (que, como todo mundo sabe, também admira Fidel Castro e Hugo Chavez). Em entrevista à revista Época, a filósofa mostra um pouco de si, ao responder as “rapidinhas”:


Qual é a maior mentira que você já contou? Ainda não sei muito bem a diferença entre mentira e verdade.


Qual é seu maior sonho? Um país chamado Brasil. Acredito muito nisso.
E seu maior pesadelo? O acirramento da violência urbana, levando a um confronto aberto entre a polícia e o crime organizado.


Em quem você daria uma surra? No Lula.


Religião... Nenhuma.


Última compra... Um vestido da Corpo e Alma e uma jóia.


A senhora, que pode comprar jóias e roupas em lojas caras, muito ao contrário dos militares que critica e parece detestar, escolheu como pano de fundo, para falar de “relações de poder”, o que ela chama de “um dos períodos mais sombrios da nossa história: a ditadura militar”, pretendendo levar a audiência a refletir sobre “de que maneira as relações de poder deixam marcas no nosso dia-a-dia”.


Cintando Michel Foucault, filósofo francês, a matéria diz que “o poder não é uma coisa, nem uma propriedade” e que “não está localizado somente no governo, nem no estado”, mas por toda parte, já que “em todos os lugares, em todas as classes sociais, há sempre relações de poder. Mesmo que não pareça”.


Bem, historicamente, e isto pode ser comprovado por todos os jornais da época (já que a filósofa sugere que não nos prendamos aos livros de história (1)), o golpe militar, na realidade, foi um contra-golpe, ou seja um golpe para desorquestrar outro golpe que pretendia conduzir o Brasil ao comunismo. É simples assim – o resto é tergiversação. É verdade quanto à repressão, mas faltou dizer contra quem – um mero detalhe. Houve repressão e reação ao terrorismo comunista e a todos que com ele colaborassem ou acobertassem. Era uma guerra, onde os terroristas mataram civis, assaltaram bancos e estabelecimentos comerciais, seqüestraram personalidades estrangeiras que aqui trabalhavam, torturaram e assassinaram seus oponentes, sempre que houve a chance de fazê-lo, e ainda praticaram atos de traição e justiçamento contra seus próprios aliados. Tudo em nome da causa comunista ou de suas próprias (como podemos ver o que fizeram muitos deles, hoje, depois de terem chegado ao poder). Jamais pegaram em armas, por um minuto sequer, como hoje já foi reconhecido publicamente por muitos deles, para lutar pela democracia republicana brasileira.

Qualquer semelhança com o que hoje acontece hoje no Brasil não é mera coincidência. A atuação do crime organizado, ligado a grupos terroristas internacionais, ao narcotráfico e ao contrabando de armas e mercadorias; os seqüestros para conseguir dinheiro e espaço na mídia (vide repórter e cinegrafista da Globo); a punição dos delegados de polícia federal que atuam dentro da lei, com afastamentos dos casos que investigam, com transferências de local de trabalho e até com ameaça de expulsão da PF; a demissão de profissionais da mídia, bem como o cerco econômico aos veículos de informação que não sejam alinhados ao governo – nada disso é coincidência, não. É estratégia mesmo e muito bem conhecida.

Mas como ele (o poder) se manifesta?”, pergunta a apresentadora. E continua: “Associamos o poder à punição, ao castigo. Até o fim do Século 18, era comum o poder ser exercido por meio da força física, da dor. Era o que acontecia no ritual do suplício - uma cerimônia pública, em que um criminoso era torturado até a morte. O suplício era uma prova de força, a manifestação do poder político do rei. Foi o que aconteceu no Brasil com Tiradentes, o líder da Inconfidência Mineira, que foi enforcado e esquartejado para servir de exemplo aos que ousassem desafiar a coroa”.


Bem, eu diria que há exemplos bem mais recentes que poderiam ter sido utilizados na produção de Viviane. O que aconteceu com o caseiro Francenildo (caso Palocci) é um deles; outro é o ocorreu com o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, que foi afastado da investigação sobre a compra do falso dossiê Vedoin e que entregou, na marra, aos brasileiros as imagens do dinheiro da “maracutaia”. Estes são apenas dois dos casos que poderiam ser falados porque são de domínio público. É verdade que no caso deles não houve morte e nem tortura física, mas há suspeitas de que já houve sim recentemente pessoas que morreram para não “abrirem a boca”, pelo menos 10 delas.


Designar os focos de abuso de poder, falar deles publicamente, nomear, dizer quem fez, é uma forma de luta... Se o poder está em todos os lugares, como diz o filósofo, todo gesto de resistência, por menor que seja, atua na grande rede que guia nossas vidas”.

Concordo. E é por isso que estou escrevendo sobre o “Ser ou Não Ser” do dia 14 de outubro. É meu pingo d’água para apagar o incêndio na floresta.


Intercalados por imagens e citações reflexivas da apresentadora, depoimentos das “vítimas da ditadura” – ex-guerrilheiros e alguns de seus descendentes. A impressão que se tem quando essas pessoas falam de si mesmas é a de que sempre estiveram em casa, ouvido rádio, cozinhando, trabalhando normalmente ou coisa que o valha, quando foram surpreendidas, um belo dia, sem mais nem menos, por uma tropa de choque que os levou presas, apenas porque elas fossem democratas – como a SS nazista que levava os judeus por serem judeus.


Criméia Almeida, ex-guerrilheira do Araguaia, foi uma das vítimas mostradas na matéria. Ela foi presa por causa do seu envolvimento com a luta armada: “mesmo grávida de oito meses, não foi poupada” diz a apresentadora. E continua: “Ficou 20 horas em trabalho de parto, na cela, sem qualquer ajuda, até que seu filho nasceu no Hospital do Exército”.


Sabe o que eu pensava na hora do parto? Puxa, eles prendem, matam e as pessoas estão nascendo, né? Eles não são capazes de segurar tudo...”, disse Criméia, depois de ter dito, também, que o ódio lhe dera forças para viver: “O ser humano é incrível no seu limite. À medida que eles torturavam, que eles matavam, um sentimento para mim ficou muito grande: de ódio. E esse ódio também me deu força, porque existem certas coisas que a gente tem que odiar para o resto da vida”.


Caso se tratasse de uma apresentação com um mínimo de honestidade jornalística (o que evidentemente não foi o caso), algumas informações não poderiam ter sido sonegadas, sob pena de induzir o telespectador a conclusões erradas, inclusive sobre o próprio tema - relações de poder. Hoje, por exemplo, a palavra dos ex-terroristas têm mais poder sobre as comissões de anistia, sobre as ONGs, sobre a mídia e, conseqüentemente, sobre a opinião pública do que todas os possíveis testemunhos em contrário que ousem desmenti-la ou defender aqueles que livraram o país da tragédia comunista. Portanto, uma relação de poder bem mais polarizada e bem mais complexa, já que envolveria armas como a mentira, a omissão e o patrulhamento.


As informações sonegadas pelo Fantástico são públicas – estão registradas em livros e podem ser encontradas facilmente na internet. Infelizmente jamais foram divulgadas nos meios de comunicação de massa, nas escolas ou nas universidades (novamente um bom exemplo de “relações de poder” desequilibradas). Algumas delas estão numa entrevista concedida ao site Mídia Sem Máscara pelo coronel da reserva do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou, quando era major da ativa, o DOI/2ª/II Exército, em São Paulo, por quatro anos – período ao final do qual o terrorismo foi praticamente eliminado daquele Estado.

Na entrevista, o coronel Ustra diz que Criméia era mulher do filho do chefão da Guerrilha do Araguaia, Mauricio Grabois, e que ela estava na área de guerrilha quando ficou grávida. Ao contrário das outras guerrilheiras, que eram obrigadas a abortar, Criméia, protegida pelo comandante da área, foi mandada para São Paulo para ter o filho, onde acabou sendo presa e encaminhada para Brasília. Segundo o relato do coronel, foi lá, no Hospital Militar, que Criméia teve seu filho, com todo apoio e assistência, inclusive, da esposa do General Bandeira que, na ocasião, levou-lhe um pequeno enxoval.


Hoje um adulto, esse filho de Criméia, de nome Joça Graboi, também participou do programa: “Eu acho que as pessoas têm as opções, as pessoas fazem as escolhas, sejam certas ou erradas. Agora, eu não tinha feito nenhuma escolha. Eu não tinha nem nascido ainda. Então, isso é uma coisa que me incomoda”.


Baseado neste incômodo, Joça Graboi, (cuja mãe havia optado por ser guerrilheira e cujo pai nem ao menos acompanhara a mãe grávida para que tivesse o bebê em São Paulo), no segundo semestre do ano passado, conseguiu uma indenização, concedida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e assinada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, por ter estado “preso” em dependências militares.


As outras vítimas mostradas na matéria do Fantástico são também da família de Criméia: a irmã, Maria Amélia, o cunhado César e os filhos do casal, Janaína e Edson. Os dois, respectivamente com 5 e 4 anos à época em que os pais foram presos, disseram que nunca se esqueceram do dia em que os militares os levaram para ver os pais. Segundo eles, Amélia e César, haviam passado por uma sessão de choques e espancamento.


Eu me lembro de uma mulher me chamando pelo nome, e eu reconheci a voz como a voz da minha mãe, mas eu olhava para ela e via que não era o corpo dela. Por quê? Ela estava com o corpo desfigurado. Ela estava ensangüentada, esverdeada de levar pancada”, conta Edson.


Lembro quando a gente entrou na 36ª Delegacia, e lembro quando a gente entrou num corredor muito escuro, e no fundo tinha uma cela muito escura, onde meus pais estavam. E eles estavam, assim, totalmente estáticos, não conseguiam se mexer”, recorda Janaína.


Eu estava amarrada, nua, urinada, toda suja, humilhada e eles levaram para os meus filhos me verem desse jeito”, indigna-se Amélia.


O outro lado da história você, leitor, já pôde conferir mais acima.


A ditadura feriu a alma do povo, e acho que feriu no que nós tínhamos de mais bonito, que era a generosidade e a solidariedade” disse Amélia, no Fantástico. “E aí, então, eu pensava assim: ‘Eu tenho que denunciar o que é feito com as pessoas. Eu vou sobreviver’”, diz Amélia.


Maria Amélia sobreviveu, mas levou 34 anos para fazer as denúncias que dizia ser preciso. Coincidentemente, tomou a decisão justamente no período em que se dá a farta distribuição indenizatória pelo Estado brasileiro que, com o dinheiro público, já comprometeu a inimaginável quantia de mais de 3 bilhões de reais com o pagamento de indenizações a ex-terroristas e a seus descendentes. Vale dizer que, não foram nem uma nem duas vezes que circulou a informação de que entre os que se beneficiam das percentagens sobre as indenizações concedidas estariam os escritórios de advocacia do deputado Luiz Eduardo Greenhald (PT-SP) e o do ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.


Como não poderia deixar de ser, e ao contrário do “Ser ou Não Ser” do Fantástico, em pretendendo sempre ouvir os vários lados sobre um determinado tema, faço saber o e-mail enviado pelo deputado Greenhald à um blog da internet – Capoeira Internet – sobre o assunto:

NOTA DE ESCLARECIMENTO


Em relação à mensagem caluniosa e injuriosa contra mim que vem circulando de forma irresponsável pela Internet, venho esclarecer que:


Não represento “todas” as causas de pedido de indenização das vítimas da ditadura militar. Foram protocolados na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça 50.637 processos, dos quais menos de 300 são representações apresentadas pelos advogados do meu escritório de advocacia. Jamais recebi um centavo, em honorários ou “taxa de sucesso”, por representação das pessoas que buscam essa indenização. Nem eu, nem os meus colegas de escritório... Não é com os injustiçados pelo regime militar ou vítimas de sua brutalidade que obtive ganhos materiais, a não ser a satisfação de ser partícipe de um processo de reparação histórica, o qual considero necessário para que os horrores do regime militar de 64 não se repitam... Por fim, informo que requisitei à Polícia Federal, através de representação criminal, o rastreamento e a identificação do autor ou autores da mensagem apócrifa e difamatória, para subsidiar queixa-crime junto ao juízo competente
”.


Vale dizer, entretanto, que as vítimas dos atentados terroristas não estão tendo a mesma atenção de gente tão caridosa e tão preocupada em fazer justiça como é o caso do deputado Greenhald, segundo suas próprias palavras acima citadas.


Orlando Lovecchio Filho, por exemplo, que perdeu uma perna e viu morrer o sonho de ser piloto da aviação civil, quando, ao passar na calçada em frente ao Consulado Americano de São Paulo, no dia 19 de março de 1968, foi atingido pelos estilhaços espalhados com a explosão da bomba que fora colocada no portão do Consulado por terroristas. Orlando foi, segundo o próprio, “emocionalmente torturado” pelo Estado até que conseguisse uma indenização.


A luta começou em 1992, quando o terrorista Sergio Ferro (então já um renomado arquiteto e artista plástico) confessou, numa entrevista à Folha de São Paulo, ter colocado a bomba no portão do Consulado. Orlando processou Sérgio, mas perdeu. Então, desde 1995, com a edição da Lei 9.140, ele passou a pedir indenização do Estado. Foram 9 anos de penitência até que finalmente, em 2004, fosse agraciado com o que o Estado achou por direito conceder: pensão especial, mensal e vitalícia, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), personalíssima e que não se transmitirá aos herdeiros do beneficiário. “As importâncias pagas serão deduzidas de qualquer indenização que a União venha a desembolsar em razão do acontecimento e o valor da pensão será atualizado nos mesmos índices e critérios estabelecidos para os benefícios do Regime Geral da Previdência Social”, diz a Lei.


O presidente Lula, por exemplo, recebe uma pensão especial para “anistiado político", de R$ 4.294,00, concedida em 1996. O líder do MLST e amigo de Lula, Bruno Maranhão (que até hoje não respondeu pela invasão e quebra-quebra do prédio do Congresso Nacional) foi agraciado com uma indenização que perfaz um total indenizável de R$ 2.160.794,62 (isso mesmo: dois milhões, cento e sessenta mil, setecentos e noventa e quatro reais e sessenta e dois centavos), nos termos do artigo 1º., incisos I e II c. e artigos 4º., § 2º., e 19 da Lei nº. 10.559 , de 2002, assinada pelo ministro da Justiça MÁRCIO THOMAZ BASTOS.

O caso da indenização aos pais de Mário Kozel Filho também merece ser mencionado. Ele prestava o serviço militar obrigatório, como soldado, quando perdeu a vida num atentado ao Quartel General do II Exército, em São Paulo/SP, promovido por um grupo de onze terroristas da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), em 26 de junho de 1969. Em 20 de agosto de 2003, o Estado concedeu pensão especial a Mário Kozel e Terezinha Lana Kozel, pais de Mário Kozel Filho, no valor de R$ 330,00 de pensão vitalícia, que, assim como a que foi concedida a Orlando Lovecchio, obedece à condição de que as importâncias pagas serão deduzidas de qualquer indenização que a União venha a desembolsar em razão do acontecimento.


Ao contrário, os terroristas que cometeram o atentado, Diógenes José de Carvalho Oliveira, Waldir Carlos Sarapu, Wilson Egidio Fava, Onofre Pinto, Edmundo Coleen Leite, José Araújo Nóbrega, Oswaldo Antonio dos Santos, Dulce de Souza Maia, Renata Ferraz Guerra de Andrade, José Ronaldo Tavares Lima e Silva já estão todos (ou suas famílias) muito bem recompensados, com gordas indenizações e/ou pensões.

Finalmente, o quadro sobre “Relações de Poder” vai aos arquivos do Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, de São Paulo e conversa com o responsável Fausto: “Isso aqui são os olhos do regime, né?”... “Um sapateiro, uma pessoa que num boteco de esquina falou mal da ditadura, ou falou mal de um político, e foi fichado”... “Esses arquivos retratam a vivência dessas pessoas... que, apesar de comuns, eram capazes de gestos de extrema grandeza”.

Em se tratando se tergiversar e de “abocanhar” grandes indenizações, põe grandeza nisso!


Bem, eu resolvi escrever sobre isso porque talvez possa ajudar a algum curioso que procure informar-se, pelo menos um pouco mais detalhadamente, sobre a anistia, sobre o revanchismo, e até sobre “as relações de poder”. Infelizmente sei que será mais um daqueles protestos que serão pouco lidos, pouco divulgados e que jamais chegarão ao conhecimento da imensa maioria dos brasileiros. Hoje em dia, as crianças não dizem mais “na época do Governo Militar”, elas dizem “na época da Ditadura Militar” (assim mesmo, com letra maiúscula e oficialmente denominada em livros, revistas, jornais e na TV). E assim será... sabe-se lá até quando...


(1) Trecho da matéria do Fantástico: “O conhecimento deve estar sempre ligado à história. Não à história oficial, dos livros, que em geral desvaloriza e desqualifica as lutas das pessoas comuns, e sim à história dos combates esquecidos, de nossos heróis anônimos”.


Não Tem Conversa


Certa vez, houve um filme em que os oficiais hierarquicamente inferiores ao comandante de um submarino o destituiram do comando por traição à pátria, mas, por pena, alegaram que teria sido por insanidade. Eles demoraram a perceber as maléficas intenções do comandante. Mas, chegou uma hora em que suas consciências não puderam mais suportar o que ia ficando cada vez mais difícil de encobrir ou de justificar: tiveram que optar entre a cumplicidade na traição e a desobediência heróica. Optaram pela segunda alternativa. Os homens eram norte-americanos e a pátria os EUA. Pode-se falar muito mal desse "império". Muita coisa, acredito eu, até por inveja. Mas, não se pode negar: militares americanos jamais condecoraram aqueles que um dia, por ventura, estiveram em luta contra eles ou contra os EUA - no máximo, cumpriram acordos de paz. Não houve "Little Boy", "Fat Man", Vietnã ou Cambodja que tenham sido capazes de destruir a imagem que os americanos têm de seus militares. Ao contrário, é tradição americana protestar contra guerras e contra governos que maltratem seus soldados.

No Brasil, menos de mil pessoas morreram, desapareceram ou foram feridas, de um lado e de outro, na guerrilha fratricida que pretendia instalar a ditadura comunista no Brasil. Derrotados, os comunistas guerrilheiros deixaram o país. Anos depois, graças a anistia ampla, geral e irrestrita, retornaram à terra natal, muitos deles com a finalidade de dar continuidade aos planos comunistas interrompidos pela derrota. Continuidade essa que nunca deixou de ser dada, internamente, pelos companheiros que aqui ficaram cuidando do aparelhamento ideológico da mídia, das escolas, das universidades, das repartições públicas.


Quem teve, agora, a oportunidade de ler a confissão “estratégico-mentirosa” do marqueteiro João Santana na campanha presidencial do PT pôde perceber que a companheirada é capaz de qualquer coisa sim para obter aquilo que deseja. A Ação movida na Justiça contra o coronel da reserva do Exército, Brilhante Ustra, segue o mesmo padrão de raciocínio e de conduta por parte de guerrilheiros comunistas. Mentem, mentem e mentem, ainda em nome da causa – porque gordas, injustificáveis e imorais indenizações do Estado já conseguiram.

Não tem conversa. Se o coronel tiver que se retratar diante dos terroristas, a Justiça terá que exigir o mesmo de todos aqueles que praticaram assaltos, assassinatos, justiçamentos, seqüestros e atentados terroristas contra cidadãos e contra o Estado brasileiros. Entre eles, alguns hoje nobres cidadãos, como Fernando Gabeira. Coloco um ponto final antes de continuar a lista, para não misturar “alhos com bugalhos”, mas ela continuaria, imensa, com nomes como José Genoíno, Dilma Russef, Waldir Pires, José Dirceu, etc.


O jornalista Reinaldo Azevedo falou sobre esse assunto em seu Blog. Pediu “muita calma nessa hora” para os que lhe enviassem comentários. Noventa por cento deles concordam que a Ação é estúpida e ilegal. Na história “destepaís”, nunca a mídia de massas e as urnas estiveram tão distantes da maioria de seus cidadãos.


Christina Fontenelle

13/11/2006
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O desmonte das Forças Armadas brasileiras – Estamos sendo cercados e ninguém faz nada!

Por Rebecca Santoro

7 de outubro de 2008

O desmonte das Forças Armadas brasileiras - Este é o título de um dos últimos artigos do jornalista Marcelo Rech, especialista na cobertura de questões relacionadas à Defesa (íntegra, AQUI). Ora, ora, ora... Vejo que até os mais crédulos, finalmente, estão começando a perceber o engodo do Plano Estratégico de Defesa. Marcelo Rech costumava levar os ministros Jobim e Unger a sério. Parece que está caindo em si.

Uma enrolação. Medida para ganhar tempo. Estratégia para manter os militares quietos e esperançosos – a um passo da abocanhar um filé que jamais será alcançado. É disso que se trata o tal do Plano de Defesa, cheio de concepções e de intenções mirabolantes.


O principal ponto falho deste Plano é e sempre foi em relação à sua coordenada de tempo. Tudo é pensado e planejado como se tivéssemos a eternidade de no mínimo 10 a 15 anos pela frente para colocar nossas Forças Armadas em condições razoáveis para garantir a soberania e a independência de um país de dimensões continentais como o Brasil e que, ainda por cima, tem uma Amazônia inteira para resguardar.


Senhores, pelo amor de Deus! A Venezuela já está armada para ontem, aliada à Rússia e ao Iran (para não desfiar todo um rosário de países anti-ocidentais) e distribui seu potencial bélico e militar para seus vizinhos pupilos latino-americanos. O Brasil está cercado por Venezuela, Bolívia, Equador, Paraguai, e porque não dizer Argentina – todos países sob a influência revolucionária chavista. Aqui dentro, temos os movimentos sociais revolucionários armados; um Estatuto de Desarmamento que praticamente impede o cidadão de poder ter uma arma, mesmo que seja somente dentro de sua própria casa; temos os Círculos Bolivarianos, a Juventude Revolucionária, entre tantos outros movimentos declaradamente comunistas. Temos também o crime organizado, que, a partir do tráfico de drogas, já se configura como um Estado paralelo, em muitas áreas do território nacional. Temos indígenas exigindo terras e mais terras e que já sabem agir com as mesmas técnicas de tomada de terras que o MST, por exemplo. O mundo todo está em polvorosa!


Como é que aqueles que se dizem ‘os entendidos’ podem estar levando a sério um Plano de Defesa que prevê eficiência militar para daqui a 10 ou 15 anos – ou até para daqui a uns 3 anos? Essas pessoas são cegas? São surdas? Ou são simplesmente comunistas traidores mesmo?


O Brasil precisa de navios, de submarinos, de aviões, de artilharia antiaérea, de armamentos individuais modernos, de equipamentos modernos de telecomunicações – isso e muito mais, TUDO PARA ONTEM! Se a intenção fosse a da eficiência, tudo isso teria que ser comprado imediatamente. Deixássemos os sonhos de tecnologias próprias, de desenvolvimentos em pesquisas, de fábricas próprias para depois, ou até para durante (paralelamente), SE e ENQUANTO o mundo desfrutasse de um longo período de calmaria internacional – período pelo qual atravessamos recentemente, mas que NÃO É MAIS O CASO DO MOMENTO QUE VIVEMOS AGORA.


Será que não há um único militar de alta patente que esteja percebendo isso?


Leiam, abaixo, os principais pontos do texto de Marcelo Rech:


Marcelo Rech

Jornalista

InfoRel: www.inforel.org

Correio eletrônico: inforel@inforel.org.

03/10/2008

Há algum tempo acompanhamos as discussões sobre o orçamento das Forças Armadas, a evolução (?) dos programas de reaparelhamento e modernização e as já cansativas reclamações dos militares em relação aos sucessivos cortes. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, chegou arrotando mudanças drásticas no momento em que o país vivia (?) um caos aéreo. Do alto de sua empáfia, falou, falou, esbravejou, mas, de prático, não fez nada.

(...)

Em meio às turbulências, vieram o midiático Plano Estratégico da Defesa e o Conselho Sul-Americano de Defesa. Nenhum deles vingou.

(...)

No dia 7 de setembro, deveríamos conhecer o tal Plano Estratégico da Defesa, mas depois de mais de um ano de discussões e debates, descobriu-se que o presidente Lula não estava completamente inteirado das propostas. Aguarda-se a convocação do Conselho de Defesa Nacional para debater o texto, se é que ele realmente existe.


(...)


Ainda não se sabe ao certo quanto dinheiro será aplicado nas Forças Armadas... Em dezembro, os presidentes Lula e Nicolás Sarkozy sacramentam um acordo militar entre Brasil e França para permitir a construção de quatro submarinos convencionais e um nuclear, além de helicópteros e a capacitação de tropas do Exército. No entanto, mesmo diante de tantas perspectivas positivas, as Forças Armadas continuam ameaçadas em seus orçamentos, o que revela uma profunda contradição entre o discurso e a prática no governo federal. Pelo menos R$ 1,6 bilhão dos recursos destinados às Forças Armadas continuam contingenciados.


O Exército já emitiu nota explicando que muitas de suas ações estão comprometidas e a Marinha anunciou a possível suspensão das patrulhas por falta de combustível... Não se pode entender como um governo pode construir um submarino nuclear se retém 23% do dinheiro da Marinha... É impensável que a Força Aérea Brasileira esteja concluindo um processo de licitação internacional para a aquisição de caças de última geração e tenha R$ 660 milhões dos seus recursos retidos pela Fazenda. Assim fica difícil acreditar que o governo realmente classifique suas Forças Armadas como instituições essenciais. É mais fácil acreditar num processo de desmonte mascarado pela retórica.