José Dirceu, Dilma Rousseff, Roberto Teixeira, Freud Godoy, Ricardo Berzoini, Jorge Lorenzetti, Expedito Veloso, Valdebran Padilha da Silva, Antonio Palocci, Sérgio Sombra, quantos mais darão a cara a tapa por Lula? Todos os escândalos que vêm à tona no país sempre levam às salas que cercam o gabinete presidencial, no Palácio do Planalto. Nesse último, agora, sobre o caso da compra e da venda da VarigLog, a ministra Dilma teria agido sozinha, sem o conhecimento de seu chefe, o presidente da República?
Parece que não. O sócio da VarigLog, Marco Antônio Audi, confirma que teve duas reuniões com Dilma e que, num desses encontros, contou o empresário à IstoÉ, os dois foram depois ao gabinete do presidente Lula. A primeira reunião foi no primeiro semestre de 2006 e a outra, com Lula, em 15 de dezembro do mesmo ano.
Nem assim o nome de Lula aparece na imprensa como suspeito de ter mandado sua subalterna, a ministra Dilma Rousseff, coordenar a operação de entrega da VARIG. Igualmente, nem mesmo o fato de o todo poderoso, e seu compadre, Roberto Teixeira, estar por trás, sempre como ‘advogado’, de várias das operações que envolveram o processo que acabou colocando a VARIG LOG nas mãos da GOL coloca o atual presidente sob suspeita de ao menos conhecer o que se passava e nada ter feito para impedir.
Reparem, a maior parte do complexo VARIG (95% da VARIG LOG + 90% da VEM), inicialmente, foi vendido para o AERO LB, um grupo formado pela TAP (Potugal), por um grupo nacional (STRATUS)(*) e por um grupo chinês (GEOCAPITAL). A operação se realizou por U$ 62 milhões.
Para quem não se lembra, já na CPI do Mensalão, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse, em seu depoimento, que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza "esteve três ou quatro vezes com o ex-ministro português Antônio Mexia, em nome de José Dirceu, para negociar a Varig", com o objetivo de estabelecer uma parceria com TAP. Não é que a vontade do ex-ministro acabou vindo a prevalecer, pelo menos parcialmente?!
Pouco tempo depois, o AERO LB ficou com a VEM e vendeu a VarigLog, por US$ 42,2 milhões, para a VOLO DO BRASIL, empresa criada pela associação dos empresários brasileiros Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luis Eduardo Gallo com o Fundo de Pensão norte-americano Matlin Patterson, representado pelo chinês Lap Chan.
Menos de um ano depois, num leilão até hoje contestado, com um plano de desembolso total de US$ 505 milhões, entre dívidas e investimentos, e com um lance de apenas US$ 24 milhões – que foi homologado em horas -, a VARIG LOG, de Lap Chan, como a única empresa a participar do leilão, arrematou o que restava do complexo VARIG, agora sem a VEM, em 20/07/2006.
Nove meses depois, este mesmo complexo foi vendido a GOL Linhas Aéreas por US$ 320 milhões, financiados à companhia, em 20 anos, pelo BNDES.
Como isso aconteceu?
Segundo um dos sócios da VOLO, Marco Antonio Audi, em certo momento, Lap Chan recorreu à Justiça dizendo que tinha o direito legal de comprar a parte dos brasileiros na VarigLog e que quem assumiria a empresa seria a Voloex. De acordo com Audi, a Voloex seria uma empresa “alaranjada” por Lap, com a ajuda de Roberto Teixeira, para este propósito:
“Eles compraram uma empresa de Santana do Parnaíba, mudaram a razão social, transferiram a sede para a Rua Padre João Manuel, mesma rua do escritório de Roberto Teixeira, e colocaram a irmã do Lap como sócia. Agora, vejam vocês, o Roberto Teixeira, que tanto defendeu a parte nacional e convenceu a Anac que nós não éramos laranjas, ajudou o Lap a criar uma empresa de laranjas para nos substituir. Gozado isso. E, se o Roberto Teixeira hoje diz para o cliente dele que nós somos laranjas, então ele sabia desde lá de trás que nós éramos laranjas? Ou ele agiu em nome do governo ou estava enganando o governo”.
Audi descreve que, depois de comprar a Varig, foram seis meses de briga da VOLO com a TAM, com a Gol e com a Anac para obter a autorização para funcionamento da companhia (o cheta). A Varig já estava com 2 mil funcionários e 23 aviões. Uma semana depois que o cheta saiu, o empresário Lap informou aos outros 3 sócios da VOLO que não emprestaria mais dinheiro para os negócios do grupo. Segundo Marco A. Audi, Lap já tinha emprestado US$ 211 milhões para o projeto Varig, de um total combinado de US$ 270 milhões, e US$ 135 milhões para a VarigLog. Diante disso, Audi afirma que só restou uma opção: vender a Varig, ou as duas empresas iriam quebrar. Então, Lap foi falar com Constantino Junior, da Gol, e Audi foi atrás da TAM, que, depois de negociações, assinou um memorando de intenções, no qual oferecia US$ 738 milhões pela compra. Lap, entretanto, insistia na proposta da Gol, que oferecia apenas US$ 320 milhões. O resultado inacreditável é que, mesmo pagando US$ 418 milhões a menos, a Gol acabou vencendo a disputa pela companhia.
Como os US$ 320 milhões pagos pela GOL foram financiados em 20 anos pelo BNDES, não deve haver maiores dificuldades por parte da empresa em cumprir seus compromissos com o banco, uma vez que, praticamente, a GOL e a TAM dividem o mercado aéreo brasileiro. Pode-se elocubrar também, agora já num exercício de imaginação, que o restante do negócio, ou seja, no mínimo, algo em torno de mais que os US$ 418 milhões - que são a diferença entre o que pagou ‘oficialmente’ a GOL e o que pagaria a TAM - tenha sido distribuído entre alguns dos personagens envolvidos no negócio, provavelmente em dólares e em contas no exterior.
Quem é que vai investigar isso? Mais uma CPI de conchavos ou aprisionada por reginhas regimentares obedientes à suposta democracia parlamentar, onde bancadas majoritárias decidem o que é e o que não é crime, ou o que pode e o que não pode ser investigado? Mais uma CPI onde as testemunhas depõem com o ‘direito sagrado’ de faltar com a verdade e de não serem presas nem por crime confessado? Ou será mais um caso para a turma de Tarso Genro? Não vão envolver o nome do presidente da república, mais uma vez, porque meia dúzia de petistas diz que ele não sabia de nada, a despeito de todas as evidências em contrário, e porque como prova só se aceita confissão por escrito, ou porque não há ‘clima’ no país para isso? Quando haverá clima para justiça e para a honestidade nesse país?
Como é que ficou o caso Celso Daniel, por exemplo, no qual, além do próprio, outras 9 testemunhas perderam suas vidas? Ficou tudo ‘esclarecido’ como caso de crime comum, não ficou? E o caso dos dois últimos grandes acidentes aéreos do país? O da TAM ficou esclarecido como tendo se tratado de erro do piloto – um caso típico de suicídio; e o da GOL ficou como sendo o caso da arrogância imperialista ianque de dois pilotos norte-americanos sobre os pobres terceiro-mundistas. Ponto final. E os R$ 15 milhões da Telemar para Lulinha? E a ONG da filha do Lula que abriu, arrecadou dinheiro e fechou? E o caso do dinheiro para pagar o dossiê tucano antes das eleições presidenciais de 2006? E o General Heleno que não pode mais se pronunciar em público? Isso tudo terminou em quê?
Justamente: provando mais e mais a impotência das pessoas e das instituições diante do petismo onipresente que se apropriou do poder no país.
(*) A Stratus foi criada em 1999 por Gonçalves e Alberto Camões. Os dois sócios já administraram mais de US$ 500 milhões em fundos e já investiram US$ 250 milhões em empresas como Scua (da área de softwares), ITMídia e .comDominio. Em
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