Por Rebecca Santoro
Calcula-se que o Brasil tenha cerca de 150 mil MW de energia a ser explorada nos próximos anos, segundo dados da UFRJ. Desse total, 70% estão localizados na região amazônica. O Nordeste e Sudeste já não têm potencial para hidrelétricas, desde algum tempo, e o Sul ainda teria alguma coisa, mas que supriria, apenas, mais um ou dois anos de demanda. Ou seja, o País não tem outra alternativa: ou parte para o aproveitamento energético da região norte do país ou não terá energia para se desenvolver, para não falar do perigo de apagão.
Pois bem, diante das incertezas que cercam a construção das usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, por causa da dificuldade em obter licença ambiental junto à oligarquia internacional, digo junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), parece que o governo federal decidiu reinvestir na Hidrelétrica Belo Monte.
Não é à toa, já que quase todas as hidrelétricas em estudo têm capacidade inferior a 3 mil MW, com exceção justamente da Belo Monte, no rio Xingu, sudeste do Pará, projetada para produzir - a plena carga - 11 mil megawatts de energia, produzindo energia mais barata do Brasil, a um custo de US$ 12 o megawatt. E tudo isso sem elevados gastos com desapropriação para o alagamento do reservatório que terá cerca de
Belo Monte foi lançada em 1988, quando a usina era um complexo que se chamava Babaquara e Cararaô – expressões que eram gritos de guerra das tribos que viviam ali. Os índios não gostaram e o nome foi mudado para Belo Monte. Em 1989, realizou-se uma audiência pública, em Altamira (PA), da qual participaram índios e muitos estrangeiros. Na época, foram cortados os recursos estrangeiros para fazer qualquer investimento na obra, principalmente depois de a índia Tuíra, da nação Kaiapó, ter avançado com um facão sobre rosto do então presidente da Eletronorte e hoje da Eletrobras, José Antônio Muniz Lopes – o que fez com que a imagem da cena tupiniquim. percorresse o mundo.
Ontem, quase vinte anos depois, em mais uma audiência em Altamira, sobre a instalação da mesma hidrelétrica, outra cena marcou o episódio e certamente também percorrerá o mundo. O agredido foi o engenheiro da Eletrobrás, Paulo Fernando Rezende, que esteve no encontro, como convidado, para expor sobre as obras da usina. Desta vez, porém, a agressão foi bem mais violenta, como o leitor poderá assistir no vídeo abaixo, da reportagem do Jornal da Globo sobre o fato. Prepare-se porque a cena é forte, embora não tenha havido morte.
Embora todos os índios agressores estivessem no local onde praticaram crime que poderia ser qualificado como tentativa de homicídio, ninguém foi preso e o que se divulga é aquele mesmo blá, blá, blá de sempre: será instalado inquérito para apurar o ocorrido; a polícia federal vai apurar o caso, etc.
É bom que os governos dos últimos 20 anos vão fingindo que vão governando; que têm uma política indigenista que não seja caótica, como bem o disse o General Heleno, Comandante Militar da Amazônia; fingindo também que têm no mínimo a menor das intenções de promover um mega-desenvolvimento, aos moldes do que ocorreu na época dos governos militares, lançando pac disso, pac daquilo... Mas, o pior mesmo, em termos de fingimento não vem da parte dos governos e sim de toda a sociedade brasileira que, unida, finge que acredita.
Imagine o leitor, se em qualquer lugar do mundo, que não seja aqui abaixo da linha do Equador, um país sério haveria de deixar de tomar as providências urgentes e necessárias em termos de geração de energia, por causa de quem quer que fosse – ainda mais em benefício de meia dúzia de índios, notoriamente pra lá de aculturados, e em detrimento de toda uma população nacional!
Simplesmente, o mundo acha que não podemos mexer na Amazônia, naturalmente porque acha que a mesma lhe pertence e que, por isso, nós brasileiros que nos danemos estagnados, sempre no pré-desenvolvimento. E o mundo usa índios como massa de manobra em prol de seu interesse. E essa manobra está passando dos limites em termos de agressividade, até que se atinja o objetivo real, que é o de dividir o Brasil em vários países. E, não tenham a menor dúvida: o Brasil que ficará para os que hoje são brasileiros é aquele que é pobre, que não tem mais riquezas, que não será capaz de produzir conhecimento e tecnologia.
Mas aí, muitos perguntarão sobre a intenção óbvia da esquerda latino-americana de formar, a partir do Foro de São Paulo, a grande pátria latino-americana, que hoje alguns chamam de União da Repúblicas Socialistas Latino-Americanas – a URSAL. Não muda nada. É só refletir um pouco: querem que todos nós cheguemos à conclusão de que, com a inviolabilidade da Amazônia, e justamente para demonstrar capacidade de defende-la e de administrar essa inviolabilidade, não nos restará saída, a não ser a união de todos os países, irmanadamente, colaborando uns com os outros, de forma a parecerem um só – ainda que sob nomes fantasias diferentes (Brasil, Argentina, etc.). Mas, a Amazônia ficará ali, paradinha, servindo a quem sobre ela tiver ganho hegemonia - e que, parece, não seremos nós.
Estamos bem no meio de um tabuleiro de jogo, sobre o qual jogadas de mestre se sucedem, agora, e cada vez com mais freqüência. A riqueza escondida na Amazônia é o objeto de disputa da vez, juntamente com a hegemonia sobre a América-Latina. Bom mesmo seria, por isso, que quem não conseguisse enxergar essa situação, ou que não conseguisse lidar com ela de maneira satisfatória, tanto para o Continente quanto para seus países individualmente, pedisse o boné e fosse jogar em outros tabuleiros. Entretanto, triste é constatar que quem joga por nós é justamente quem está fazendo isso contra nós. Uma pena que muito poucos saibam disso. Uma pena que muito mais poucos ainda daqueles que sabem disso falem a respeito. Uma pena que, quando façam isso, muitíssimos mais poucos os ouçam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário