terça-feira, 19 de agosto de 2008

E agora pessoal, Roraima ficou mais pertinho?

Por Rebecca Santoro


No último artigo que escrevi sobre o conflito que acontece em Roraima, eu começava dizendo ao pessoal do "não estou nem aí, por que nem sei onde é Roraima, de tão longe" que o que acontece naquela região é apenas uma mísera amostra do que vem acontecendo nos mais diversos locais do país, sob pretextos os mais absurdos, ao longo de governos que literalmente promovem a divisão da sociedade em grupos de todos os tipos e jogam uns contra outros, ao limite do ódio de morte - operação, deve-se ressaltar, vem obtendo sucesso estrondoso e inegável.

Mas, eu dizia no artigo, que Roraima, de repente, poderia ser ali, no barzinho da esquina, e até no meio da sala de estar de um carioca qualquer, por exemplo. Afirmava que bastaria que alguém, ou um grupo de 'alguéns', conseguisse convencer um governador ou até um presidente da república de que seus antepassados (do grupo) teriam vivido em qualquer área com que se cismasse, por longos anos, num passado remoto - o bando entra e ocupa; se os proprietários reagirem em legítima defesa, são presos; e os bobalhões coagidos dos proprietários que entrem na justiça para implorar ao estado que faça cumprir a lei.

Pois não é que hoje o Jornal da Globo mostrou uma reportagem que coloca Roraima logo ali, em Niterói, no Rio de Janeiro?! Tudo bem, o caso é diferente, mas o princípio que rege o que vai na cabeça dos invasores é o mesmo: o do direito à terra que lhes foi roubada pela burguesia. Nada além da estratégia de terceirização dos agentes encarregados de colocar um fim na propriedade privada em prol da coletiva. É a forma moderna de se fazer a revolução socialista,


Uma tribo de índios Guarani decidiu levantar uma aldeia numa área de preservação ambiental, que fica no centro de uma das áreas mais nobres de Niterói - a praia de Camboinhas. Alegando que seus antepassados lá teriam vivido, trinta e seis índios Guaranis se mudaram, com malas e cuias, de Paraty (cidade do sul do estado do Rio) para a praia de Camboinhas, onde convivem, dentro da área de preservação, ao lado de mansões e condomínios de luxo - imóveis que chegam a valer até dois milhões de reais e pelos quais se paga o IPTU mais caro da cidade.


Os índios consideram-se os verdadeiros donos da terra e, inclusive, alegam existir, no local da invasão, vários cemitérios indígenas. Na reportagem do Jornal da Globo, o cacique Isaías de Oliveira mostra alguns ossos, que, segundo ele, seriam de seus antepassados, e diz: “A gente veio para proteger esse cemitério indígena, porque os brancos estão destruindo o que era dos índios. A gente nunca vai sair daqui”. Simples assim.


A Associação dos Moradores encaminhou o caso ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, que, segundo revelou a reportagem. designou uma antropóloga do núcleo de peritos para investigar se a área reivindicada pelos índios é realmente uma terra tradicionalmente ocupada por comunidades indígenas. Só depois de concluído o estudo é que será decidido se vai haver ou não uma ação civil para a retirada da tribo.


E agora pessoal, Roraima ficou mais pertinho?




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