Por Rebecca Santoro
No último artigo que escrevi sobre o conflito que acontece em Roraima, eu começava dizendo ao pessoal do "não estou nem aí, por que nem sei onde é Roraima, de tão longe" que o que acontece naquela região é apenas uma mísera amostra do que vem acontecendo nos mais diversos locais do país, sob pretextos os mais absurdos, ao longo de governos que literalmente promovem a divisão da sociedade em grupos de todos os tipos e jogam uns contra outros, ao limite do ódio de morte - operação, deve-se ressaltar, vem obtendo sucesso estrondoso e inegável.
Pois não é que hoje o Jornal da Globo mostrou uma reportagem que coloca Roraima logo ali, em Niterói, no Rio de Janeiro?! Tudo bem, o caso é diferente, mas o princípio que rege o que vai na cabeça dos invasores é o mesmo: o do direito à terra que lhes foi roubada pela burguesia. Nada além da estratégia de terceirização dos agentes encarregados de colocar um fim na propriedade privada em prol da coletiva. É a forma moderna de se fazer a revolução socialista,
Uma tribo de índios Guarani decidiu levantar uma aldeia numa área de preservação ambiental, que fica no centro de uma das áreas mais nobres de Niterói - a praia de Camboinhas. Alegando que seus antepassados lá teriam vivido, trinta e seis índios Guaranis se mudaram, com malas e cuias, de Paraty (cidade do sul do estado do Rio) para a praia de Camboinhas, onde convivem, dentro da área de preservação, ao lado de mansões e condomínios de luxo - imóveis que chegam a valer até dois milhões de reais e pelos quais se paga o IPTU mais caro da cidade.
Os índios consideram-se os verdadeiros donos da terra e, inclusive, alegam existir, no local da invasão, vários cemitérios indígenas. Na reportagem do Jornal da Globo, o cacique Isaías de Oliveira mostra alguns ossos, que, segundo ele, seriam de seus antepassados, e diz: “A gente veio para proteger esse cemitério indígena, porque os brancos estão destruindo o que era dos índios. A gente nunca vai sair daqui”. Simples assim.
A Associação dos Moradores encaminhou o caso ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, que, segundo revelou a reportagem. designou uma antropóloga do núcleo de peritos para investigar se a área reivindicada pelos índios é realmente uma terra tradicionalmente ocupada por comunidades indígenas. Só depois de concluído o estudo é que será decidido se vai haver ou não uma ação civil para a retirada da tribo.
E agora pessoal, Roraima ficou mais pertinho?
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