terça-feira, 19 de agosto de 2008

DEVOLVAMOS TUDO AOS PRIMEIROS HOMO SAPIENS


Por Rebecca Santoro

Estou preocupado com a evolução dos povos indígenas e com o medo que está se espalhando pelo Estado. Assim que a desintrusão ocorrer, teremos condição de viver e produzir em paz. Os brancos têm que pagar pela dívida de mais de 1.500 anos massacrando os índios”.


Esta é a frase de um dos líderes indígenas que é favorável à expulsão dos não índios da Reserva Raposa da Serra do Sol, em Roraima. Reparem como ele repete como papagaio aquilo que fizeram ele decorar. Há inúmeras contradições dentro dessa única frase - acho mesmo que poderia concorrer, no Livro dos Recordes (Guiness Book) nessa categoria, se é que ela existe.

Evolução? Que evolução "cara vermelha"? As tais das reservas não são para que índios fiquem condenados à estagnação imposta pela preservação das culturas indígenas? Acorda, companheiro índio! O que é que a cultura indígena original (tem que ser a original - não vale expulsar o branco para tomar as coisas deles e imitá-los em seu modus vivendi, né?) poderá produzir para sustentar seu povo autonomamente, já que era assim que os índios viviam?


"Assim que a desintrusão ocorrer", diz o índio. Desintrusão é o que eles chamam de desocupação. O camarada índio está dizendo que a presença não indígena naquela região, datada de uns 300 anos mais ou menos, é intrusão. Já informaram ao caro silvícola que os portugueses estiveram por aqui e fundaram o que hoje conhecemos como Brasil? Pois é, esse pessoal esteve passando uns tempos por aqui e, como aconteceu na história mundial de todos os povos, acabou que aconteceu uma mistura de gente que criou raízes e se transformou em nação, sobre um solo cujas delimitações geográficas passaram a ser reconhecidas oficialmente como país.


Foi graças à "intrusão" desse pessoal que nasceu o que hoje conhecemos como Brasil. Se 508 anos não foram suficientes para convencer o nosso índio falastrão de que somos todos brasileiros, produtos de uma enorme miscigenação, e que acabamos por formar uma grande nação independente, pelo menos no papel, então que sejamos todos nós, os não índios, de norte a sul e de leste a oeste, expulsos dessa terra chamada Brasil, só porque o cacique mandou. Devolvamos tudo aos senhores originários da terra e nos afoguemos no oceano - já que não teremos para onde ir e que somos todos cidadãos fantasmas, surgidos da injusta conquista de povos sobre povos que originou o mundo como o conhecemos hoje. Aliás, vamos todos sair à caça dos primeiros descendentes diretos dos primeiros homo sapiens e devolver tudo a eles - nos afoguemos todos. Mas, levemos conosco os antibióticos, a pinicilina, os carros, a água potável, as máquinas, os lápis, as canetas, os aparelhos de TV, as bebidas alcoólicas, os alimentos industrializados - tudo, tudo que a famigerada raça invasora trouxe consigo.


Será que sem ter para quem vender as riquezas da terra brasilis, para poder comprar bens de consumo produzidos pelos odiosos invasores, o índio vai querer a tal da terra que pleiteia?


E, por último, "cara vermelha", você não decorou direito: não havia "brancos" por aqui há 1500 anos. Essas terras receberam os primeiros portugueses EM e não 1500 anos. De lá para cá, passaram-se apenas 508 anos, que, se tivessem sido de todo esse massacre que o cacique diz, certamente, como aconteceu em muitos outros lugares do planeta, você não estaria aqui, hoje.


As pessoas precisam começar (o que talvez já possa ser, inclusive, tarde demais) a parar de fingir que aceitam muito bem esse discurso politicamente correto que simplesmente tergiversa sobre a realidade, assim, na maior cara-de-pau, nas suas barbas, exigindo que se reaja como "burro-idiota". Um discurso que qualquer criança com 5 anos, ou até menos, desmonta com duas ou três perguntinhas básicas, lógicas e inocentes.


Rebecca Santoro


Leiam, na página AMAZÔNIA deste site, tudo o que se tem publicado sobre o genocídio que se aproxima de Roraima.


Nenhum comentário: