Aproveitando o "gancho" das questões levantadas pelo deputado R. Pereira, sua colega, a deputada Suely Campos, fez mais uma pergunta ao antropólogo: "no site de S.Sa. identificamos a afirmação de que, se por acaso o Governo Federal recuar na homologação (em terras contínuas) da reserva indígena Raposa Serra do Sol, vai haver grande desmoralização em âmbito internacional. Pergunto a S.Sa.: que interesses internacionais há nessas áreas?"
O antropólogo, então, afirmou que "o processo de reconhecimento dos direitos territoriais indígenas é gradativo, envolve diferentes etapas administrativas: uma primeira, em que se procede à identificação da área; uma segunda, em que se realiza a delimitação; uma terceira, em que se faz a demarcação; e a etapa conclusiva, a da homologação da demarcação. Posteriormente, ainda há o registro. Portanto, se foi inicialmente proposta uma área com extensão menor, essa proposta não foi conclusiva. Isso talvez tenha sido o início de estudos que não prosperaram nem no percurso administrativo interno da FUNAI. Nós só podemos considerar concluída a parte administrativa dos estudos quando o processo sai do âmbito da FUNAI e vai para o Ministério da Justiça. Não foi o que ocorreu com as propostas anteriores, que não foram aceitas, não foram concluídas nem sequer no âmbito da FUNAI, por insuficiência de dados, de informação".

Diante de tal resposta, o deputado Asdrúbal Bentes manifestou indignação dizendo que: "
Há, sim, um laudo antropológico (anterior)
que identifica, delimita e diz o que é necessário para a manutenção da cultura indígena, dos seus costumes, dos seus hábitos, que os índios habitam ali em caráter permanente"... "
a FUNAI sobrepõe os laudos antropológicos ao preceito constitucional, e a sua portaria tem mais valor do que o art. 231 da Constituição"... "
Temos visto os desrespeitos constantes, inclusive com negativas, com adiamentos de depoimentos, na tentativa de protelar para evitar outra decisão que não seja a que os senhores antropólogos entendem como dogmática"... "
uma homologação contínua vai gerar conflito que não existe"... "
Estivemos na área e não vi conflitos entre índios e não-índios, mas convivência harmoniosa, pacífica. Inclusive, os índios declararam expressamente que não querem mais voltar ao passado, que querem conviver conosco fraternalmente".
PAULO SANTILLI foi obrigado a reconhecer que, dentro da área a ser homologada como reserva, havia, sim, a presença de não-índios, mas afimou que a grande maioria da população era indígena. A Vila Surumu, por exemplo, lembrou o antropólogo, "tem origem numa aldeia indígena que ainda existe". Sobre a expedição de título do INCRA, Santilli disse que "houve falha do órgão" (a Funai).
O deputado Rodolfo Pereira lembrou ao antropólogo que "No início da sua explanação, V.Sa. falou muito sobre o Rio Rupununi, na Guiana, sobre os índios patamonas, da Venezuela... Por exemplo, a quarta geração para trás, dos índios de Maturuca, veio da Guiana. Sei disso porque a bisavó do meu filho é de Maturuca e o seu registro se encontra na prelazia da Guiana Inglesa, assim como sei da convivência de índios venezuelanos no Brasil e de brasileiros na Venezuela. Não estamos tratando aqui de segurança nacional e até da internacionalização da Amazônia ou da criação de um país. Há rumores de pretensões internacionais, mas não existem documentos. Se pegarmos todos os laudos antropológicos das demarcações de áreas indígenas, veremos que elas são exatamente iguais às das mineradoras. Demarca-se área indígena onde há bons minérios, boa água. Pode ser uma paranóia, pode ser mentira, mas são fatos. Por isso, pergunto: o território da Venezuela pertence aos índios brasileiros, já que eles por lá perambulam, vivem, caçam, plantam? Os guianenses e os venezuelanos também são donos de territórios no Brasil?"

Estas e muitas outras pertinentes questões foram levantadas e respondidas (ou não) pelos presentes às duas reuniões. Vejam os quadros ilustrativos para conhecê-las. Hoje, os problemas na região da Reserva Raposa da Serra do Sol estão longe de estar resolvidos e, como se sabe, o assunto voltou às pautas depois que houve vazamento da informação de que o Governo Federal, através da Polícia Federal, estaria planejando uma ação para retirada final dos não-índios daquela região. Para realizar esta operação, a PF deveria contar com a ajuda do Exército - coisa que estaria sendo negada e que teria sido a razão da exoneração do Gen. Santa Rosa do cargo de
Secretário de Política e Estratégia e Assuntos Internacionais (SPEAI) do Ministério da Defesa, pelo ministro da defesa, Nelson Jobim.
No último dia 27 de setembro, houve uma audiência pública na Assembléia Legislativa de Roraima, na qual compareceram dezenas de produtores rurais. Aliás, todos os envolvidos Todos envolvidos no processo de retirada de não-índios da Raposa da Serra do Sol relataram as dificuldades que têm para sair das áreas que ocupam - seja por falta de assentamento ou pelo insignificante valor atribuído para as indenizações.
A avaliação do processo de retirada de não-índios da Raposa Serra do Sol é coordenada pelo senador Mozarildo Cavalcanti (PTB), designado com esta finalidade pelo Senado Federal. Membros da Comissão Especial Externa da Assembléia Legislativa, criada para acompanhar o senador, dizem que a situação na área homologada é desoladora.
Índios desolados, passando necessidade e sem assistência de saúde. Pequenos agricultores não assentados em outras áreas e que não têm como trabalhar. Também há índios querendo que suas casas sejam indenizadas para também saírem. Não-índios casados com índias que estão se vendo forçados a sair da região - o que cria um rastro de desagregação familiar. Comunidades estão isoladas e sem comércio para lhes vender mantimentos. Idosos - até com 90 anos de idade ¿ literalmente abandonados, sem saber o que será de suas vidas. Há desagregação e segregação.
O relatório final da Comissão que será apresentado ao Senado e ao Palácio do Planalto deverá ficar pronto até o final de outubro. Perderemos Roraima...
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