Por Rebecca Santoro
O título deste artigo é grande mesmo. É grande porque no título de um artigo deve estar concentrado a sua essência e uma espécie de chamamento ao leitor que se interesse por determinado tema. E, finalmente, é grande porque exalta os adjetivos que se pode colocar ao lado da palhaçada que vem sendo montada e articulada, há anos neste país, por conta das concessões de aumento salarial, de ajustamento constitucional da isonomia (que nunca foi levada a sério) e de verbas para as Forças Armadas. Não há mais como ser discreto e educado para falar deste tema. É uma palhaçada mesmo, um crime de lesa-pátria que vem sendo cometido pelos sucessivos governos civis, desde 1985, assim, nas barbas de tudo mundo, e ninguém faz absolutamente nada - nem os interessados, diga-se de passagem. Honrosa exceção seja feita às mulheres de sargentos e de suboficiais que até já apanharam das forças de segurança do Palácio do Planalto para pedir nada menos que justiça.
O presidente Lula deve anunciar na próxima quarta-feira (só não se sabe bem se a próxima quarta-feira a que se refere o Planalto é neste ano) o reajuste salarial dos militares. Descumprindo descaradamente a Constituição, o que não é mais nenhuma novidade neste governo, trabalha-se com a possibilidade de concessão de reajuste de forma escalonada, com percentuais que variem de 27% a 37%. Dentro deste conceito inconstitucional, está a idéia de elevar de R$ 207,00 para R$ 415 o valor do soldo pago aos recrutas.
Vamos começar pelo mais apelativo: o soldo dos recrutas. Um absurdo esta proposta. Um absurdo conceder aumento maior para os recrutas do que para seus superiores e um absurdo oferecer a esmola de R$ 415,00. Querem instituir também agora o Bolsa-Recruta. Soldado tem que entrar para as FFAA ou servi-las, percebendo, no mínimo, R$ 1.500,00. Chega de cerimônia ao falar de valores! Entendam, senhores ministros e "otoridades" em FFAA, os garotos vão lidar com armamento exclusivo, que vale muita grana no mercado paralelo; vão aprender táticas de guerra (que, depois, poderá ser repassada aqui fora para gente que não gosta de seguir a Lei). Não vou encher a folha de argumentos porque somente estes dois, que qualquer criança com mais de 5 anos entende, já seriam mais do que suficientes.
Um milico, hoje, com 30 anos de serviço, em final de carreira, recebe cerca de R$ 5 mil líquidos. Vinte e sete por cento do bruto vai para pagar imposto de renda. Se o governo é quem paga esta porcaria de salário e é o mesmo que recolhe o imposto de renda, porque é que não se isenta o milico do tal do imposto? E a dinheirama que vai para os hospitais militares deste mesmo soldo bruto e que, na hora em que se precisa de um atendimento, não há médico para nenhuma especialidade que não seja a "de emergência"? Tanto é que se paga, descontando direto no bilhete de pagamento, um seguro saúde particular (uma porcaria de plano, diga-se de passagem). Sabem quanto recebem de salário família por membro da família? DEZESSEIS CENTAVOS POR CADA DEPENDENTE! Isso é uma palhaçada!
No início desta semana, o General Heleno, Comandante Geral da Amazônia, disse no Canal Livre da TV Bandeirantes, que a tropa está passando dificuldades aflitivas. Foi educado o General. A tropa está desesperada - famílias estão sendo desfeitas, filhos estão sendo abandonados por mães que precisam arrumar trabalho, de 8 às 18 horas, seis vezes por semana, em qualquer lugar desta selva de país para os quais seus maridos são transferidos, e em qualquer padaria que ofereça emprego no qual não seja exigido do empregado interesse em fazer carreira longa e estável e no qual, também, não seja exigido (ou priorizado, vamos dizer assim, para não ferir os olhos de leitores que achem que a mulher tem os mesmo direitos que os homens no mercado de trabalho) que as mulheres não estejam em idade fértil, com nítidas possibilidades de vir a engravidar no emprego. Mesmo as que têm emprego público federal ficam pulando de função em função, sem conseguir fazer uma carreira estável, por conta das transferências do marido. Não se pode exigir dessa gente que sejam excelentes e dedicadas funcionários públicos... Vamos dar nome aos bois e deixar de hipocrisia...
Mesmo que haja consenso em designar um aumento geral de 37%, isso não seria o suficiente. Ivone Luzardo é que teve coragem de não ter papas na língua ao dizer ao ministro da defesa que seria necessário, no mínimo, aumento de 100%. Há que se estudar (e que se exigir) as condições necessárias para que se cumpra a isonomia salarial entre as funções e os poderes. Não há recursos? É claro que há. Vide PACs, recursos para passeatas e manifestações de tudo quanto é grupo ongueiro e de movimento social deste país, a roubalheira aos cofres públicos, os gastos com cartão de crédito corporativo que subiram 1000% no governo Lula etc.
Por falar em PAC, a imprensa está se esquecendo de fazer certas ligações entre a fanfarrada "paquista" de Lula pelo país e quem vem, depois dela, para acudir a população dos desastres deixados para trás. Quem? As FFAA, que tampam buracos nas estradas abandonadas ou mal acabadas; que montam hospitais de campanha para ajudar a salvar a população da dengue; que saem para ajudar a população imersa em
É claro que há recursos para dar reajuste de 100% sim (não falo nem de aumento!). Não há é vontade política e se sabe muito bem o porquê.
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