Por Rebecca Santoro
18/10/2007
Estamos em 1973. O geólogo Wilson Scarpelli estava em Roraima para pesquisar sobre ouro, em uma faixa de rochas que se estendia desde Tepequén, a oeste, até a margem esquerda do Rio Cotingo, já na Guiana. Em seu trabalho, o Dr. Wilson voava de fazenda em fazenda, nalgumas das quais pernoitava por alguns dias, e de onde percorria, a pé, as áreas em que tinha interesse. Nessas andanças, afirma o geólogo, em mensagem enviada a mim, “não vi nenhuma aldeia, mas muita atividade de pecuária e de garimpagem de diamantes”. Ele diz mais: “Só vi uns 3 índios, e na fazenda do Sr. Levindo, parente de Juscelino Kubitschek (parente mesmo). A fazenda estava situada à margem direita do Rio Quinô. Os índios tinham ido ao Sr. Levindo em busca de auxílio (comida e remédio)”.
Durante sua estada na fazenda do Sr. Levindo, o geólogo testemunhou a presença do repórter Amaral Netto em Roraima, onde estava para realizar um documentário enorme sobre aquela região. O material recolhido por Amaral Netto foi tamanho e o trabalho agradou tanto que o documentário acabou ocupando dois programas de uma das séries semanais da TV brasileira – TV GLOBO - que mais fazia sucesso naquela época: Amaral Netto – o Repórter. No programa, percebe-se que a presença de tribos indígenas naquela região não era tão extensa como se faz, agora, pensar que eram.
Por que? Segundo Wilson Scarpelli, o povo da região dizia que os índios, originariamente, não gostavam de viver nas regiões de savana (vegetação predominante naquela área onde hoje está grande parte da Reserva Raposa da Serra do Sol), justamente porque nestas regiões do Brasil não havia caça de grande porte – além do que, os índios que por lá viviam não tinham o costume da agricultura permanente.
A história desse programa está registrada no site de uma das filiadas da TV Globo – a Rede Amazônica - onde se pode ler que a “primeira experiência efetiva da cidade de Boa Vista com a televisão verificou-se a 29 de dezembro de 1973, quando a equipe do Programa da Rede Globo Amaral Neto O Repórter iniciou as gravações de um documentário sobre Roraima”. Aliás, de acordo com o Dr. Wilson, Amaral Netto, em pessoa, esteve na fazenda do Sr. Levindo para filmá-la - na ocasião, o próprio geólogo acabou sendo captado pelas lentes do repórter.
O programa sobre Roraima foi um sucesso em todo o país, menos naquele próprio Território, que, naquela época, ainda não possuía nenhuma emissora de televisão. Foi somente em 1974, quando o coronel-aviador Fernando Ramos Pereira assumiu o Governo do Território Federal de Roraima, é que este anunciou, publicamente, a instalação de uma emissora de televisão, ainda em tempo de oferecer ao povo de Boa Vista as transmissões da Copa do Mundo, que aconteceria em junho daquele ano, na Alemanha. Faltando menos de dois meses para o evento, muitos, é claro, não acreditaram, já que não havia rede de estações repetidoras por perto, além do fato de também não existir nenhum tipo de terminal de satélite em Roraima.
Bem, mas voltando ao que hoje nos interessa, ao contrário do que já foi divulgado, inclusive por mim, em um de meus artigos, na região da Raposa da Serra do Sol não há nióbio, segundo me alertou um militar que conhece muito bem a área e ainda segundo as informações do próprio geólogo Dr. Wilson Scarpelli: “Na área que percorri, vi garimpos de diamantes e sinais de presença de ouro. Infelizmente não havia do tipo de depósito de ouro que eu buscava - que era ouro
Enfim, é mais um relato de um brasileiro que esteve na região onde hoje está demarcada e homologada a Reserva Raposa da Serra do Sol, e que vem a confirmar o que já vêm dizendo muitos outros brasileiros que não concordam com a justificativa de que havia naquelas terras tantos índios como foi imposto como verdade absoluta e incontestável pela segundo parecer do Incra (e da Funai), para que a tal demarcação fosse determinada em terras contínuas – fato que simplesmente implica no desaparecimento de 3 importantes municípios do estado de Roraima.
Isso para não falar do trabalho que muitas Ongs vêm realizando com os “pobrezinhos e desprotegidos silvícolas”. Trabalhos estes que colocam aqueles seres - “objetos de preservação cultural e ambiental” – em contato com que há de mais moderno na civilização ocidental, além, é claro, de transformarem “aqueles ícones da primitividade humana” nos mais ativos empresários de riquezas naturais (sejam elas minerais ou vegetais) e do ecoturismo - todos prontos para receber a “mais câmara de desinteressada” ajuda para administrar suas próprias nações, independentemente do país nas quais elas estejam fisicamente inseridas.
Quanto à presença das Forças Armadas na Reserva, a proposta de alguns índios é a de que eles próprios recebam treinamento especial para fazer a fiscalização das áreas de fronteira do Brasil com os países vizinhos (como se pode verificar no quadro acima - à esquerda). Esse pessoal precisa se decidir se quer as reservas para viver como viviam seus ancestrais, para sempre, ou se, afinal, querem uma bela de uma porção de terra - gentilmente tomada de outros milhares de brasileiros que por elas pagaram, pagam e pagarão seus impostos - para viver o sonho de governar, independentemente, seus próprios países, e com eles enriquecer a si próprios e a quem os melhor souber explorar. Está na cara que a segunda opção tem tudo para terminar em desastre - físico, mental e material (para eles e, muito provavelmente, para todos os brasileiros).
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